Luciane Ramos: a coletividade fundamenta as estéticas negras

Por Victor Sousa

Fotos por Bete Nagô, artista da Colaboradora

Luciane Ramos Silva é artista da dança; antropóloga; curadora independente; co-editora da Revista Menelick 2-ato (que tem como temática arte e sociedade na diáspora negra); e mobilizadora do centro de pesquisas Acervo África, de cultura material africana.

Ela foi convidada como artista mentora da segunda temporada da Colaboradora – Artes e Comunidades e realizou o primeiro encontro de sua mentoria com artistas do projeto na sexta-feira passada (24/1), na sede do LAB Procomum.

Nesta entrevista, Luciane Ramos Silva nos contou sobre o caminho que deseja percorrer com a mentoria dos projetos e sobre o encontro com os artistas.

SOBRE A MENTORIA

“A ideia da mentoria é trabalhar a partir do meu chão, das pesquisas, da vida e o que acumulo e levo comigo. É poder compartilhar estéticas e poéticas relacionadas a esse universo que posso chamar de africanizado, que posso chamar de negro – e as pessoas dão o nome que entenderem para ele.

E esses repertórios – que são conceitos, imaginações, conteúdos simbólicos – ao serem discutidos, permitem que as pessoas ampliem seus próprios repertórios. E não apenas no sentido de acúmulo, mas na construção de uma percepção crítica sobre a arte que se faz e a arte que se elabora para o mundo.

E, no limite, é uma maneira de  nós artistas repensarmos como interpelar o mundo. Estamos no limite, não dá mais. A arte sempre interpelou, mas hoje, em 2020, vivemos um tempo em que essa interpelação é emergencial.

A ideia é a construção e a cooperação, o ir e vir desses conceitos e simbologias. E referências especificas de autoras, intelectuais, obras e dinâmicas. Tudo isso como possibilidade para o debate.

O grupo é muito rico e poroso. Tenho a sorte de lidar e compartilhar com esse tipo de artista porque são artistas do mundão, do povo. São pessoas que produzem arte e já têm essa emergência de cultivar e produzir uma arte que amplifica-se para o mundo. Porque na concepção de uma arte eurocêntrica, a produção pode restringir-se ao próprio umbigo – o que não deixa de ser arte, não estou aqui para criticar isso. Mas estou aqui para propor outras formas”.

SOBRE A COLABORAÇÃO

“A experiência da coletividade é o fundamento das estéticas negras que estou discutindo e também fazem parte do meu percurso como acadêmica e na minha abordagem acadêmica da dança, da minha prática de treinamento e do conhecimento do corpo. Eu já sou uma pessoa coletiva – isso tem a ver com a minha pessoa e personalidade.

A Colaboradora e o fazer junto com esse grupo torna-se uma grande felicidade para mim. De poder encontrar um tipo de proposta e um convite, onde chego para expandir essas formas de estar juntos. Ou entender que sou parte de um ciclo, de uma espiral.

Porque estar, produzir e criar juntos não é fácil. Por isso, frequentemente, a gente sucumbe a essa forma eurocêntrica de ver o mundo. A gente sucumbe e volta para o individual.

Em nosso primeiro encontro comentei que a minha grande questão é: como me relacionar com as outras pessoas sem me perder? Como viver junto sem perder a subjetividade?

Ao mesmo tempo que existe o cultivo coletivo, também existe o das pessoas, das suas prioridades e potencialidades.

O encontro com a Colaboradora potencializa e soma as coisas que tenho pensado e, principalmente, as minhas vontades e desejos de fazer juntos”.

 

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