Na Rede 02 – Preta Rara

O Instituto ProComum recebeu a rapper Preta-Rara para a série “Na Rede”. Atualmente ela está em campanha para publicação do livro “Eu Empregada Doméstica- Nossa Voz Ecoa”. O livro reunirá relatos de abusos e desrepeitos sofridos por empregadas domésticas ao redor do Brasil. Os depoimentos foram publicados ou enviados à Preta Rara com a hashtag #EuEmpregadaDoméstica. Apoie aqui o projeto: https://www.catarse.me/euempregadadomestica

 

Eu Empregada Doméstica: Um grito anônimo de milhares de mulheres

A rapper Preta-Rara trabalhou como empregada doméstica aos 18 anos de idade e largou a profissão após entrar na universidade de História e conseguir um estágio.
“Minha mãe e minha avó trabalharam como empregada doméstica. Infelizmente é uma profissão hereditária e comigo não foi diferente.
Eu demorei para entender isso, mas um curriculum com foto e boa aparência nunca é preta” disse.
“Comecei a trabalhar como empregada doméstica e já cantava rap não profissionalmente. Já tinha a consciência, mas sofri algumas violências e as naturalizava. Não podia comer e usar o banheiro na casa da patroa e achava que isso era normal.
Minha mãe chorou quando comecei a trabalhar como empregada doméstica. Disse que já havia passado por isso e compartilhou histórias comigo”, conta Preta-Rara.

Preta-Rara explicou que a ideia do projeto #EuEmpregadaDoméstica não foi planejada. Ela estava de férias e resolveu expor algumas lembranças do trabalho doméstico nas redes sociais. Convidando outras pessoas a fazerem o mesmo.
“A primeira lembrança que publiquei foi quando trabalhei como cozinheira em uma casa e não podia me alimentar ali. Tinha que levar meus talheres e copo. E não podia usar o banheiro da casa”, disse.
Logo nas primeiras horas já recebeu dezenas de relatos. A maioria por redes sociais, o que permitia o anonimato das denúncias.
“O que me surpreendeu é que os meus relatos eram do passado. Mas a maioria das denúncias que recebia era no presente”, conta a artista. Ou seja, os problemas seguiam os mesmos, apesar de alguns avanços nos direitos trabalhistas.
Em apenas 4 meses de projeto, #EuEmpregadaDoméstica já recebeu 4 mil denúncias e tem mais de 130 mil seguidores.

“Das 6 milhões de empregadas domésticas do Brasil, 79% são mulheres negras. Esse não pode ser o único local de emprego delas.
Em 1994, 98% das mulheres negras trabalhadoras eram empregadas domésticas.
Essa é a única opção para elas.É dificil inserir-se no mercado, semi analfabetas, não têm casa ou transporte próprio. Poucas chegam ao nível superior.
Minha mãe mesmo sempre tentou estudar e nunca conseguiu por cansaço”,
Preta Rara.

“A página serviu para reafirmar tudo que já fazia enquanto militante e cantora de rap. Mas agora canilizou as ateções. Sou apenas um canal em que as pessoas podem falar o que sofrem sem ser identificadas.
Em um programa de TV, uma atriz me chamou de canto e disse que leu a página e se sentiu do outro lado: o de patroa. E que tudo aquilo já estava naturalizado nela por gerações.
Esse é outro lado que eu também desconhecia”,
Preta Rara.

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