Como nos comunicamos em tempos tão adversos?

Por: Lia Lopes

Em setembro de 2022, Lia Lopes, Gerente de Expansão e Impacto do Instituto Procomum participou do curso “Novas Narrativas para o Ativismo num Ambiente de Riscos” promovido por Conectas e IRIS e no texto a seguir, nos traz um pouco do que vivenciou. 

“Durante 4 encontros virtuais, estive em contato com mais de 25 representantes de várias organizações sociais aprendendo e pensando sobre novas narrativas para um ativismo em ambientes de riscos.

A cada encontro tivemos um tema norteador: Corpo, Alimento, Humor e Espiritualidade. Confesso que cheguei muito curiosa para entender como esses 4 temas se relacionariam com a comunicação, mas conforme os encontros foram acontecendo, as peças foram se encaixando. 

Construir uma narrativa é algo mágico e poderoso, imagine então enfrentar narrativas já dadas e produzir novas histórias que façam sentido com nossa realidade? Mais desafiador ainda! E foi isso que este curso me mostrou. 

Na prática, estamos o tempo todo contando histórias e revivendo memórias daquilo que vivemos ou que ouvimos alguém dizer. Mas se tratando de tempos tão adversos, por vezes violentos, as histórias ganham outras proporções e significados. 

O tema Corpo me alertou sobre estar presente fisicamente. Na pandemia fomos impedidos de nos encontrar, e o físico se perdeu sendo transferido para o plano virtual. Passamos a conversar mais ativamente pelas redes sociais e viramos avatares de nós mesmos. Por isso, o corpo adoeceu (físico e mental), o tato e o contato se perderam. 

“O corpo precisa de sustança e merece merendar” dizia minha avó. Assim surge o tema Alimento, num mergulho profundo para perceber e entender sobre o que estamos nos alimentando. Alimento como comida e palavras, pensando a respeito do que deixamos entrar em nós e como isso nos toca e nos transforma. 

“Rir de si é um ato de coragem”, disse uma das participantes durante o encontro do tema Humor. Estamos o tempo todo precisando ser levados a sério, pois fazemos coisas que são importantes e necessárias para a vida de muitas pessoas. Por isso, nem sempre comunicar é divertido. Perdemos a alegria no meio do caminho, sendo que ela é agregadora por ser contagiante e envolvente. 

Estamos todos envoltos em um ambiente com algo maior, até sobrenatural. Foi assim que encerramos nossa formação com o tema Espiritualidade. Numa conexão profunda com nosso saber ancestral, entendi que a alma também precisa de tempo e cuidado. Deixamos para segundo plano e perdemos os sinais que a vida divina nos apresenta. Mas temos sempre a oportunidade de nos conectar com o sagrado que habita em cada um de nós e que é compartilhado quando estamos em comunidade. 

No fundo, corpo, alimento, humor e espiritualidade nos conecta com quem somos no tempo presente. Nos dão força para seguir adiante e nos lembram do propósito de comunicar nossas histórias sob uma nova perspectiva, baseadas em nossas vivências práticas. 

Apesar do relato acima ter muito do meu viés e percepção pessoal daquilo que aprendi, quis compartilhar aqui porque entendo que estes saberes merecem circular pelo mundo. Se uma pessoa (a que ler este artigo) aprender algo daqui, o saber comungado foi alcançado.

2000 1414 Editor
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