OBAPPE – Observatório de Arte Preta Periférica

Já faz alguns meses que tenho visto Chagas, Jess, Xampu, Neguinha Braba e Mariana Behr circulando no LAB Procomum com uma frequência maior do que antes. Só podia ser coisa boa rolando. Conversa vai, conversa vem, até que no dia 25 de julho, pude ver, no bar Guaiaó, o nascimento do OBAPPE – Observatório de Arte Preta Periférica, um projeto inicialmente apoiado pela Lei Paulo Gustavo, mas que visa alçar voos muito maiores. Na bio do Instagram: Um núcleo de pesquisa e produção cultural na Baixada Santista.

Durante o evento de iniciação do OBAPPE, foram muitos os encontros entre novos e velhos amigos e a certeza de que o movimento artístico negro e jovem de Santos estava reunido ali: rappers, poetas, pintores, cantores, dançarinos e toda a sorte de artistas que se podia imaginar. Por trás de tantos risos, a esperança do fortalecimento coletivo através da união. Muito bonito ver essas pessoas dando vazão à potência que possuem; afinal, como afirma Braba: “Não tem cultura voltada para nós (pretos) na Baixada, quem faz somos nós”. O evento contou com slam e, como não poderia deixar de ser, exposições e apresentações artísticas. O OBAPPE começou forte!

Além dos nomes citados acima, no evento pudemos conhecer outras mentes que fortaleceram o projeto: o fotógrafo Buscapé, o designer Roger Rabelo, o produtor Tormenta e o artista audiovisual Henrique.

Da Ação:

Está aberta a chamada para o Mapeamento Cidadão de Arte Preta e Periférica de Santos. O objetivo é promover a formação em pesquisa e divulgação de dados sobre a produção cultural e artística de pessoas pretas e periféricas da cidade de Santos. Para mais informações, acesse aqui.

Do Encontro no LAB:

No dia 07 de agosto, no Galpão Multiuso do LAB Procomum, aconteceu a roda de conversa “Arte e Cultura na Baixada Santista” com Neguinha Braba e Julie Lua, que compartilharam suas vivências, como acessaram a arte e a importância delas na periferia. Chagas contou que, antes de ser OBAPPE, as pessoas que o integram formavam um grupo de trabalho nascido na Colaboradora, escola livre de artes do Instituto Procomum, instituto este que agora, orgulhosamente, é parceiro da iniciativa. O encontro foi tão forte e envolvente que deixo aqui algumas das falas que demonstram o quanto o OBAPPE é imprescindível.

“Quem faz arte na periferia quer falar de algo que viu, se sentiu tocado e quer reportar isso de alguma forma, mas para quem é preto e de periferia é sofrido. Quando queremos realizar alguma coisa, nos deparamos com muitas burocracias… Estamos aqui para debater e reivindicar nossos direitos como pessoas pretas caiçaras. O observatório é importante para questionar por que não tem estátua de gente preta, escondem tanto as histórias dos nossos ancestrais e por que o que essas pessoas fizeram não chega nas escolas.” – Neguinha Braba

“No Procomum conheci muitas pessoas que me levaram a muitos lugares, mas projetos como este deveriam ir até as quebradas porque não tem nada lá e as pessoas nem ficam sabendo o que está rolando. Para um artista crescer, ele precisa estar em rodas como essa para ter ideias e entender que você é importante para onde você mora.” – Neguinha Braba

“Para mim, a arte tem um lugar de resolução de sentimentos. Tudo o que eu não entendi e não consegui expressar transborda pela arte.” – DJ Profana

“Graças ao hip-hop evitei entrar em situações complicadas. Toda a cultura periférica deveria ter apoio de políticas públicas.” – Douglas

O OBAPPE já tem datas para os próximos encontros. No dia 14 de agosto, o LAB Procomum será o cenário para uma discussão a respeito de Políticas Públicas, e no dia 21 do mesmo mês, o encontro será online e abordará Geração Cidadã de Dados. Siga o coletivo nas redes.

Ah! E já ia esquecendo de contar que o OBAPPE está construindo um hotsite, cujos primeiros passos podem ser acessados aqui.