42 pessoas de 23 países discutindo a filantropia no Quênia

Entre os dias 7 e 11 de outubro, em Nairobi, Quênia,  aconteceu o Simpósio da Global Fund For Community Foundations, que reuniu 42 participantes de 23 países, para discutir um futuro possível para a filantropia: local, baseada em confiança e com protagonismo comunitário. O Instituto Procomum foi representado por Victor Marinho, Gerente de Inovação da organização.

A filantropia comunitária vem enfrentando desafios cada vez mais complexos, determinado pelas reduções e cortes de orçamentos, pressão sobre sua agenda e a desconfiança nas instituições. Um contexto global frágil, estimulado pelo avanço de agendas conservadoras. Em diferentes escalas e momentos, praticamente todas organizações vivem este ambiente desafiador e incerto.

Os cortes de recursos internacionais, conflitos internos e externos, proibição ou perseguição de determinadas agendas são realidades que mutias organizações enfrentam hoje. E realidades que todas organizações e países podem enfrentar amanhã.

Os participantes, divididos entre organizações e bolsistas, estão desenvolvendo pesquisas nesta área e o simpósio foi o momento de compartilhar reflexões e pensar possíveis ações coletivas. Discutir, a partir das pesquisas e experiências, qual o papel daquelas organizações presentes na criação de novas possibilidades, vocabulários e modelos de financiamento, gestão e atuação para a filantropia.

Um ponto interessante que surgiu entre os participantes é que aparentemente algo mais duradouro está criando raízes. Falamos sobre o poder da confiança, da formação de redes e relacionamentos – algo que parece pequeno se olharmos para cada organização isolada, mas torna-se muito poderoso ao ser observado por um olhar mais atento. Pessoas, que ao redor do mundo, obedecem um padrão positivo de relações de confianças e formações de redes descentralizados.

O simpósio teve um formato aberto e de gestão coletiva do conhecimento em uma metodologia parecida com a dos laboratórios de inovação cidadã do Procomum. Alternando momentos de partilha coletiva e pequenos grupos para aprofundar debates. Compartilhamos os principais problemas vividos por cada organização, criamos grupos temáticos para aprofundar debates, compartilhamos nossas pesquisas e por fim, propomos ações para a rede.

Filantropia comunitária: uma transformação invisível, ancestral e necessária

“Tal como o micélio (a parte vegetativa de um fungo) sob o solo, essas conexões se espalham de forma invisível, criando redes que nutrem e transformam as comunidades a partir de dentro. Elas lembram que o poder pode ser construído, e não apenas conquistado – por meio do cuidado, da participação e da apropriação coletiva da mudança”, como escreveu György Hámori, da Roots and Wings Foundation, de Budapeste, Húngria.

E como defendemos aqui na Procomum, uma boa parte da inovação também é ancestral. Para Romoti, do YouthHub, é o que as comunidades africanas já fazem há centenas de anos. “Vivemos em um senso de comunidade que está no centro dos valores de muitas sociedades africanas. Sempre nos apoiamos com fundos. Na minha tribo, filhos tem muitos pais e mães, tios e avós, qeu ajudam no cuidado. Temos muitos pais e mães que nos alimentam. Eles podem te levar para escolar e cuidar de vocês. Então eu penso que a comunidade filantrópica está enraizada na sociedade africana, apenas temos que nos preocupar em nos subvalorizá-la e afirmá-la dentro de uma arquitetura global”.

Durante o encontro conversamos muito sobre como a filantropia parece algo silencioso e duradouro, mutias vezes invisível, que está criando raízes cada vez mais sólidas. É um trabalho também de confiança e de relacionamentos. O que pode parecer algo pequeno ou local em um primeiro olhar, mas se enxergado como uma rede descentralizada é gigante e imensurável.

Se voce pergutnar o que é filantropia comunitária para mim é sobre estarmos juntos para algo comum. Não diria doar, mas compartilhar os recursos que temos.

Dar de volta para as pessoas a liberdade e dar-lhes poder para trabalhar por uma missão compartilhada de uma vida ideal, é sobre união, é sobre resiliência, é algo para além dos recursos monetários, humanidade compartilhada.

Alternando a pirâmide do poder; construindo algo novo

Durante o encontro, ficou evidente que a  Global Fund for Community Foundations se apresenta como uma plataforma livre e colabroativa para algo maior: enredar estas diversas iniciativas e ajudar a construir algo novo em escala global.

“Um compromisso com a (re)construção de infraestrutura cívica e com a reinvenção de como a solidariedade, a confiança e o poder compartilhado podem moldar a próxima geração da vida cívica e construir um mundo mais conectado e participativo”, György Hámori.

Conversamos com Ese Emerhi, da Global Fund e ela contou que o encontro é uma continuação de quase uma década do #ShiftThePower e um incentivo para mudanças na tradição da filantropia. Em 2023 foi realizada a edição do Shift the Power para discutir o poder dos movimentos que sempre estiveram nas franjas da sociedade e da filantropia e nunca estiveram nos holofotes.

“Nós sabemos que os sistema está quebrado, foi criado há 100 anos, e sempre foi excludente. Este é um momento decisivo, os cortes da US Aid, redução e corte dos orçamentos. Este é o momento de conversamos o que mais é possível, como filantropia comunitária pode ser radical pensamento para alternativa durável e sustentável para o desenvolvimento que queremos”, continuou Ese Emerhi.

 

2048 1365 victor
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