Cortejo afirma ancestralidade africana de Vicente de Carvalho, em Guarujá

Reportagem, vídeo e fotos por Aílton Martins

O Cortejo Brincar (Elas), que ocorreu no dia 08 de abril em Vicente de Carvalho, Guarujá, ocupou o espaço público com danças e cantigas de roda apresentadas por mulheres negras da região da Baixada Santista. A ação tinha o objetivo de recuperar a memória de antigas tradições da cultura preta que ao logo do tempo – e de uma ruptura de identidade devido às contantes mudanças que o cotidiano nas cidades impõem – acabam por se perder ou por serem apropriadas por outros grupos sociais.

O cortejo partiu da barca que faz a interligação entre Vicente de Carvalho e Santos e atravessou por entre os boxes de quinquilharias seguindo depois até a linha do trem. De lá, as artistas subiram por uma passarela de pedestres e foi concluído em frente ao terminal municipal de ônibus. Quem acompanhou a atividade pôde conferir cantos e toques de tambores belíssimos.

Marília Fernandes, promotora do projeto e uma das organizadoras do grupo Brincar (Elas) explica o porquê da proposta: “a gente queria trazer um pouco da nossa história negra mesmo, então é a primeira vez que estamos juntas como mulheres negras, aqui em Vicente de Carvalho, convidando as pessoas para brincar, dançar e cantar com a gente”.

Circuito LABxS (Lab Santista) - Brincar (Elas)

Juliana do Espirito Santo, uma das artistas, dá o tom político do cortejo:

“O corpo negro não é qualquer corpo, principalmente no contexto do nosso país, de um contexto onde fomos violentadas, nossos antepassados, a nossa memória, ela também foi violentada… Então olhar pra essa memória, não necessariamente a memória histórica, mas a nossa memória de nossas vidas, de como a gente organiza a vida, é importante para projetar nosso futuro […] e realizar neste espaço, neste distrito, onde muitas pessoas migraram do nordeste, e sempre na busca de trabalho terminaram por criar uma ruptura muito grande, e o brincar com o tempo se perdeu […] é importante resgatar isso”.

Thais Reis explica que as artistas se conheceram no Maracatu Quíloa, onde faziam parte da ala das mulheres negras. “Lá a gente foi percebendo muita coisa e pensando sobre a necessidade de resgatar questões da cultura negra, da mulher negra, que hoje toda essa questão cultural tá sendo apropriada por outros grupos, então precisamos também se fortalecer”, explica.

O Cortejo durou cerca de 40 minutos. Quando terminou, as pessoas estavam curiosas para saber de onde havia surgida aquelas jovens mulheres negras cantando lindamente. Entre elas, a vendedora de loja Maria Lúcia que passava pelo local. “Achei muito lindo elas cantando, tinha que ter mais vezes, foi avisado antes? Eu não sabia, tão de parabéns”, disse.

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