A escola não me ensinou a aprender, só tentou me dizer o que precisava ser aprendido. E aprendi assim, que aprender tinha pouco de mim. E no meio de toda essa massa, amassado por anos de repetição, decorei as receitas do bolo, mas não soube o que fazer com a massa na mão. Rabiscando sobre a receita, redescobri meus ingredientes cultivados no corpo-mente e regados pelas histórias que semeiam o quintal da minha memória.
Querem o conhecimento enformado, não a formação. A fôrma quadrada onde apodrece solada a massa que chamam de civilização. Contemplo o muro pixado em alerta, a cor das janelas abertas, crianças brincando na contramão. A arte vital, ligação ancestral que foge à linha de produção. Sentir-se impotente e amedrontado, sozinho e despreparado, ser engolido pelo mercado da massificação, é o bolo esperado pelas receitas da colonização. Como viver de arte sem deixar de viver a arte, então?
Espero um dia saber, hoje sigo aprendendo a aprender, buscando formas de afetar, manter a cabeça no lugar, inventar quem eu sou e imaginar um novo mundo com as sobras do que restou. Novas receitas, cores, sabores e modos de viver, alimentando a companheria, trabalhando em uma padaria de sonhos onde o fermento é a comunhão. Arte é pão para quem tem fome de transformação.
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