Já conversamos por aqui sobre os projetos de moradia digna desenvolvidos no Instituto Procomum. Acreditamos na troca de conhecimentos, na colaboração e na interdisciplinaridade como ferramentas para solução dos problemas. Melhorar a moradia é melhorar a vida das pessoas. A arquitetura colaborativa de interesse social é voltada para a promoção dos comuns urbanos e a efetivação do direito à cidade
Para entender a Lei Federal de Assistência Técnica em Habitação de Interesse Social clique aqui.
Em 2021, o Laboratório ATHIS na Baixada, realizado com fomento do Conselho dos Arquitetos e Urbanistas de São Paulo (CAU-SP), reuniu por chamada pública 60 arquitetos e arquitetas em um percurso formativo e de desenvolvimento de projetos de assistência habitacional na Vila Margarida (São VIcente-SP) e na ocupação Bela Vista (Santos-SP).
Durante seis meses, os participantes utilizaram a metodologia da Colaboradora, nossa escola aberta e colaborativa, para co-desenvolver projetos de melhoria das habitações dos bairros.
Para conhecer os projetos, assista as apresentações dos projetos:
Um direito que assegura qualidade de vida
Quando o Grupo de Trabalho de ATHIS se formou, em 2018, como comunidade de prática no LAB Procomum, ficamos encantados com as possibilidades do tema. Afinal, estamos falando de um direito essencial para a vida: a moradia digna. Uma possibiliade de, respaldados por conhecimento técnico e por uma lei federal, efetivamente, melhorar a vida das pessoas e suas moradias.
Depois de quatro anos, poder realizar um percurso formativo completo do tema, atuando diretamente em dois bairros da Baixada, mostra como as metodologias do IP e do LAB Procomum são multidisciplinares e adaptáveis à diferentes realidades, temas e territórios.
Ou seja, que o nosso jeito de fazer permite o apontamento de soluções para diferentes problemas, de diferentes temáticas, em diferentes territórios. Um exemplo prático de como a troca de saberes e a colaboração potencializam as ações.
Para Dani Colin, uma das coordenadoras do projeto, a busca pelo direito à habitação de qualidade e com dignidade, transcende as questões de moradia. “Entendemos que o direito comum à habitação está diretamente ligado à garantia de outros direitos. E mais do que isso, moradia digna para as pessoas possibilita o acesso a outras questões fundamentais para a vida, como a saúde emocional, fisíca e o bem-estar”, comentou Dani Colin.
“Estamos apontando para a solução de questões comuns a todas as pessoas. De encontrar vias para o bem-estar para todos. O direito à moradia digna é um direito para todos. Para qualquer pessoa. A garantia da assessoria técnica não é apenas um acessório, é fundamental para a qualidade de vida das mesmas”, disse Dani.
Colaborar é preciso
Quando falamos em colaboração, não estamos falando de nada novo. Para algumas atividades ela é, inclusive, parte intrínseca do seu fazer. O que fazemos é criar percursos formativos que potencializam a colaboração, sistematizando experiências e vivências em metodologias que podem ser adaptadas e replicadas.
Para Laís Granado, uma das coordenadoras do projeto, não é possível separar ATHIS de colaboração. “Trabalhar com ATHIS é trabalhar de forma coletiva, colaborativa e participativa. Só é possível fazer um trabalho de assistência com qualidade reconhecendo a importância das trocas, da escuta e dos diferentes saberes”, disse.
Eu acredito no poder da construção de rede, em trabalhar a partir da cooperação e não da competição. Trabalhar o cuidado e o diálogo como pontos fundamentais para que seja possível a troca entre profissionais atuantes e moradores das comunidades envolvidas.
Venho entendendo o comum não pela pesquisa acadêmica, mas sim pelas experiências diárias. E o Procomum tem sido fundamental para aprimorar este entendimento”, conclui Laís Granado, coordenadora do Projeto.
O ponto de vista é reforçado por Anita Rodrigues Freire, arquiteta participante do percurso formativo da Colaboradora Athis. Para ela, foi fundamental trabalhar no coletivo. “Primeiro, para entender o território que estávamos habitando; criamos grupos para realizar mapeamento, entender a legislação e atuar junto aos moradores do bairro. Esse trabalho coletivo permitiu que os grupos pudessem pensar em projetos adequados a esse levantamento prévio e nessa etapa a colaboração foi fundamental. Nasceu com base no coletivo. E seria impossível realizá-lo de outra maneira”, comentou.
O comum na prática: escuta, cuidado e repertório
Para respeitar os protocolos de segurança e o isolamento social, o projeto foi realizado de maneira remota, o que não impediu a co-criação, colaboração e escuta com as comunidades. Para Tayane, 26, arquiteta, lidar com diferentes personalidades, expectativas e sonhos não é uma tarefa fácil e requer muita paciência e empatia.
Ela fez parte da equipe do LAB Margarida e propôs a revitalização da praça da rua 23. Com o objetivo de propor um lugar aprazível, que trouxesse identidade, pertencimento e integração da comunidade a uma política antiexclusão.
“Desenvolver um projeto em ATHIS é sempre muito rico, cheio de descobertas que requer muito ânimo e coragem para mudar o que deve ser mudado. É sempre um desafio diferente porque são locais, personalidades, sonhos e expectativas diferentes. Mas, apesar das diferenças, o objetivo é sempre em comum: a busca pelos mesmos direitos em todos os âmbitos imagináveis e inimagináveis. É um desafio bom”, disse a participante do projeto.
“Na arquitetura e no urbanismo é muito frequente debatermos o comum urbano. Não era algo do meu estranhamento. A experiência com a Colaboradora me ajudou a formar uma opinião firme sobre o que é realmente o comum. Um entendimento pela prática e menos na teoria – o que é mais corriqueiro nas universidades. A colaboração trouxe um percurso pedagógico que somou-se com a nossa atuação como arquitetos na sociedade. Isso facilita o desenvolvimento dos projetos e o empoderamento da comunidade”, concluiu.
Para Isadora Lima, arquiteta e urbanista, recém formada pela UFRN, de Natal – RN, participar do projeto foi a realização de um sonho profissional. “Não queria que minha experiência profissional nessa área ficasse restrita ao período da universidade. E consegui essa oportunidade no primeiro ano como formada”, comenta
“A Colaboradora ATHIS na Baixada, pra mim, foi um momento de muito aprendizado, de muita troca, muita reflexão sobre o fazer arquitetura popular nesse contexto de muita dificuldade e distanciamento, e também sobre quão sensível é esse tipo de trabalho, seja em relação ao contato com as comunidades envolvidas no projeto, seja entre a própria equipe técnica”, comentou.
O projeto “BELA VISTA: Reflexos da Resistência” consiste em uma produção fotográfica e audiovisual, que nasceu a partir da Colaboradora ATHIS, que promoveu a capacitação de Arquitetxs Urbanistas em tecnologias sociais para ATHIS, bem como a sensibilização de estudantes, gestores públicos e população em geral, através de encontros semanais e da realização de oficinas e cursos com o objetivo de fortalecer a cooperação, a formação e manutenção da rede de ATHIS e a troca de saberes entre os agentes envolvidos.
O grupo teve a participação de sessenta profissionais, que trabalharam em duas áreas da Baixada Santista. Separados por subgrupos, muitos projetos surgiram, em diferentes escalas, formatos e vertentes.
Sabendo que a comunidade do Bela Vista sofre, entre outros problemas, com a invisibilidade social, este projeto surgiu como parte da Colaboradora, visando trazer a tona as potencialidades e fragilidades da comunidade, bem como as histórias de vida de quem lá reside.
✉ CONVITE PARA GESTORES PÚBLICOS DA BAIXADA SANTISTA ✉ ⠀ O ATHIS na Baixada (AnB), junto com o Instituto Procomum (IP), firmou o compromisso com o Conselho de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo (CAU/SP) de criar uma proposta e minuta de lei de ATHIS – Assessoria Técnica para Habitação de Interesse Social – para a Baixada Santista. E foi isso que fizemos! ⠀ Hoje faremos uma reunião para apresentarmos nossa proposta inicial e recolhermos a sua sugestão para, juntos, criarmos a PROPOSTA IDEAL!
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