Aprender Fazendo

Tornar-se cidadão/ã no Brasil é tarefa árdua diante das tantas privações a que estamos expostas quando se diz respeito aos nossos direitos.
Em um Laboratório de Inovação Cidadã exercitar a cidadania não é redundância. É princípio, diretriz e especialmente investigação. Requer envolvimento e interesse.
Essa implicação se presentifica cotidianamente, junto ao público com o qual temos contato no Instituto Procomum. São pessoas adultas, majoritariamente de grupos sub-representados, e que mais do que acessar espaços e oportunidades desejam fazer desses acessos permanentes – o que está em consonância com nosso compromisso.
Nossa prática consiste no estímulo ao desenvolvimento de alternativas para solucionar problemas comuns a pessoas, segmentos, territórios e também na geração de condições de possibilidade para que as pessoas estejam à vontade e deixem aflorar sua liberdade criativa. Isto se dá na medida em que lidamos com a integralidade dos sujeitos que se relacionam com o nosso fazer, e nesse contato, à medida em que nos dispomos a refutar o modo de produção capitalista, que tudo compartimenta e individualiza, mergulhamos na complexidade dos seres (cada um é um universo) e seus contextos, fazendo emergir toda sorte de desafios envolvidos na construção de uma cidadania plena.
Nossos pontos de partida são convocatórias para a participação do público em programas e projetos que contêm suas temáticas e/ou propósitos específicos. Contudo, como se faz caminho ao caminhar, no curso dos nossos processos nos surpreendemos com novas pautas, muitas vezes tão importantes quanto aquelas que lançamos de antemão, e que precisam ser tratadas.
Uma escola não formal de artes e comunidades, cujo elemento central é a colaboração, atrai pessoas muito distintas, seja por sua história, seu perfil ou sua atuação (“cada ser tem sonhos à sua maneira”). E a proposta é capaz de atraí-las, a despeito das possíveis tantas diferenças entre elas. Buscar então o que as une, mais do que o que as afasta, é o que mais nos interessa. Não pela indissociabilidade de personalidades e obras, mas para fortalecer a cooperação e produzir os curto circuitos desde os quais a inovação surge e a beleza dos talentos conectados sobressai.
Mas para além do que é bom, há momentos em que os conflitos emergem e o que buscamos fazer é enfrentá-los com afeto, coragem, cuidado, generosidade e reciprocidade – nossos valores.
Ao longo dos anos, por exemplo, evoluímos na elaboração de ferramentas, instrumentos e metodologias que subsidiam nosso trabalho, a exemplo da Política de Proteção e Prevenção à Violência, que nos assegura procedimentos e fluxos diante de tais situações.
As interseccionalidades não são apêndice do nosso trabalho; pode-se dizer que são essência e matéria prima desde onde é viável pensarmos também nas artes, nos espaços cívicos diversos, alternativas econômicas e outras frentes de luta relevantes.
Com todas as opressões que nos atravessam e as dores que carregamos desde outras vivências e lugares, ainda assim não é incomum escutarmos sobre uma certa completude, felicidade, familiaridade de participantes em nossos processos. E isso é bastante satisfatório. Nos demonstra que o acolhimento, ainda que não todo – ou talvez justamente por isso – é tecnologia avançada, que requer investimento e que faz sentido sustentarmos.

867 538 Editor
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