Quem acompanha as redes do Instituto Procomum sabe que desde dezembro de 2022, Museum for the United Nations e IP estão em parceria na manutenção da instalação “Global We”. Localizada ao lado da concha acústica e apoiada pela Organização das Nações Unidas, o espaço é um portal que conecta cidadãos da sociedade civil ao redor de todo o planeta para realizar discussões acerca de sustentabilidade e crises climáticas.
Após dois meses de instalação, os facilitadores Calu Narcizo e Dener Xavier apontam suas impressões a respeito do projeto.
IP: Como vocês enxergam a relevância deste tipo de ação?
D: Sempre progresso poder extrapolar os territórios e ter um espaço tecnológico desse, onde a gente se conecta com diversos ativistas do mundo todo pensando nessa questão ambiental. Olhar e ver que não estamos sós, há vários problemas aí no mundo que são os mesmos que os nossos. Aqui podemos nos inspirar e criar soluções, pegar coisas, ideias e possibilidades.
C: É legal acrescentar que não para por aí. Essas conversas são gravadas por uma inteligência artificial que as transcreve e, portanto, elas não se perdem. Esses registros são interpretados para o entendimento do que as pessoas mais falam e trazem sobre meio ambiente, território e governo. Dessa forma, as conversas poderão ser acessadas por políticos, pesquisadores, ativistas, estudantes… Faz sentido conversar porque não vai parar por aí.
D: Esse também é um ponto interessante pra gente enquanto ativistas, pois estamos em contato com grandes organizações como o Shared Studios e o próprio Procomum que está dando essa oportunidade pra gente. Vários bagulhos monstrão. Ver o cuidado no tratamento dos dados e das informações, pessoalmente está sendo cabuloso. a gente tem essa essência lá no Chegados (Instituto coordenado por Dener e Taynara Dias no bairro da Vila Margarida em São Vicente), de conectar a molecadinha com o globo, mas é um material que se esvai, quem viveu, viveu! Mas aqui, ver como a galera trata as informações que são trocadas é irado. No campo pessoal e profissional esta experiência está dentro de um nicho que lá no Chegados, chamamos de “Trabalho, estudo e lazer”. Temos nosso lifestyle baseado nessa tríade: Nosso trabalho é estudar, nosso estudo é o lazer e nosso lazer é trabalhar, então aqui eu consigo ver isso neste portal, o trampo é um estudo trocando ideia com uma pá de gente cabeçuda do mundo todo e ao mesmo tempo tirando onda, fazendo novas amizades. Brasil é prática: a gente ama trocar ideia, mas também gostamos de mão na massa. É um processo.
C: É um networking incrível
IP: Você falou sobre tecnologia. Quais as tecnologias que vocês passaram a conhecer que lhes chamaram atenção?
D: Essas tecnologias de câmera e conexão via plataforma são normais, o diferencial aqui é que você consegue ver o corpo inteiro da pessoa e isso pra mim já deu um “boom”. Tu conhece a pessoa mesmo, o tamanho, como a pessoa é mesmo. Isso é irado demais! Além disso, tem essa parada de transcrição de tudo que falamos que além de usar a inteligência artificial, os caras têm um sistema de usar a tecnologia humana. É nós que vamos codificar isso aí.
C: Em outras palavras, para deixar bem visual para quem está lendo: você vem aqui e vai falar do seu projeto, vai se apresentar e beleza. Este robô vai transcrever tudo que você falou , vai colocar seu nome e tudo isso vai para uma plataforma super bem organizada. Quando alguém ler o texto, será possível te ouvir de novo porque a conversa estará inteira gravada, só não será possível ver a sua imagem. E o que pode ser feito com essa conversa? Conforme você vai falando dos seus desejos, sonhos e iniciativas, quem estiver ouvindo poderá destacar tópicos a respeito do que foi falado, clicar na transcrição e ouvir novamente a sua voz. Todas as ideias serão enviadas para arquivos setorizados por temas. Imagina isso com centenas de conversas. É muito bom para saber tudo que está sendo feito a favor do meio ambiente e da sociedade para sabermos como colocar as mudanças em prática.
IP: Qual o impacto que essa imersão gerou em vocês?
C: Eu me tornei uma pessoa mais engajade, eu me preocupo mais com a questão do transporte na cidade, por exemplo. Me interesso mais por pesquisar, ver na televisão…
D: O que mudou para mim é estar mais próximo de uma ideia que eu sempre tive no Chegados que é essa questão de conectar a rapaziada através do idioma. Antes parecia uma brisa muito grande e agora eu vejo que é palpável. Eu tinha poucas referências disso e participar disso hoje é como se eu estivesse dentro de uma ideia futura.
IP: Pra fechar, contem uma coisa muito legal que aconteceu aí dentro?
D: Ah mano, pra mim, marcou muito o encontro com a rapaziada da África do Sul. Foi um encontro de rap, né mano? E aí veio mow galera da parte deles e teve um neguinho mil grau que contou a história dele e falou que a música salvou ele porque ele ficava na escola e não conseguia estudar porque ele ficava pensando no que ele ia comer quando chegasse em casa. Eu ouvi isso e já achei um bagulho louco, ele dizer que a música o salvou porque desviou meu raciocínio para outras ideia. Aí eu falei “mano, esse neguinho tem a vida muito parecida com a nossa”. Daí do nada eu falei pra ele “Aê, que marca que é esse teu boné?” Ele tava com a camisa na Nike e nós da periferia tem um bagulho com a moda. O gueto tem um bagulho muito profundo com a moda, todo mundo acha que é superficial, mas é muito profundo. Quando eu perguntei do boné, ele respondeu “É Nike”, aí os parceiros dele começaram a mostrar boné, camisa, tênis e eu pensei “Os caras são igualzinho nós, doidinho pelas marcas.” Aí entramos numas ideia mil grau e parecia que eu tava falando com um brother da minha quebrada. Ele contou que a mãe foi presa e ele não sabia o que ia comer quando chegasse em casa e que a música o tirou essas ideia do raciocínio ruim de roubar. Contou que onde mora até dreads são roubados porque quem tem dread é boyzão, a galera rouba e vende os dreads. Pra mim o bagulho é louco demais, ver mais uma vida salva pelo rap num outro canto do mundo.
C: Eu queria compartilhar o depoimento de alguém que apareceu aqui no contêiner, uma menina da Alemôa que depois de ter vindo na sessão me enviou a seguinte mensagem: “Calu, estou muito feliz de você ter me dado a oportunidade de fazer parte desse projeto. Eu nunca imaginaria uma situação dessa, o inglês abre portas e com isso consegui desvendar um mundo até então desconhecido pra mim, ver a realidade deles, como é a vida lá, a comida, a educação, a sexualidade, etc.”
Foi uma sessão com a Etiópia na qual falamos sobre comida e ela, enquanto parte do movimento estudantil, falou sobre educação pública, as merendas… Ela desenrolou muito.
Ela disse que foi um marco pra ela e que ela nunca imaginaria ser pertencente deste tipo de discussão.
Os diálogos seguem acontecendo e a programação do que está por vir, você confere abaixo:
DIA 15 QUARTA 11:30-13:00 | Conversa no estilo World Café COPENHAGEN
DIA 15 QUARTA 14:30-16:30 | Encontro Gastronômico BARBADOS
DIA 16 QUINTA 14:00-15:30| Workshop de Addis Ababa, ETIÓPIA
DIA 17 SEXTA Conversa no estilo World Café – ‘’Sexta-feira climática’’ (profissionais, especialistas, pessoas pesquisadoras)
DIA 18 SÁBADO 12:30-14:30 | Encontro Musical NIGÉRIA
DIA 18 SÁBADO 15:00-16:30 | Workshop do MÉXICO
DIA 20 SEGUNDA 9:00 -14:30 Residência Artística (países e horários a serem confirmados)
DIA 22 QUARTA 14:30-16:30 | Encontro Gastronômico COPENHAGEN
DIA 23 QUINTA 15:30-17:00 | Workshop de Medellín, COLÔMBIA
DIA 24 SEXTA 9:00-10:30 | Conversa no estilo World Café – ‘’Sexta-feira climática’’ (profissionais, especialistas, pessoas pesquisadoras) – ADDIS ABABA, ETIÓPIA E NAIROBI, QUÊNIA
DIA 25 SÁBADO | Encontro Musical COLÔMBIA
DIA 27 SEGUNDA 9:00-10:00| Conversa no estilo World Café ETIÓPIA
DIA 27 SEGUNDA 10:00-11:00 | Conversa no estilo World Café HOLANDA
DIA 27 SEGUNDA 11:00-12:00 | Conversa no estilo World Café QUÊNIA
DIA 28 TERÇA 11:00-12:30 | Workshop do Brasil NIGÉRIA
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