Instituto reúne assembleia em celebração

Desde o surgimento em 2016, o Instituto Procomum teve em sua diretoria 3 membros: Georgia Nicolau, Rodrigo Savazoni e Marília Guarita. No entanto,  em 2023 Marília Guarita, a Magui, resolveu alçar novos voos e explorar novas possibilidades, renunciando ao cargo e  mudando a configuração da nossa diretoria que agora conta com Fabrício Freitas. Para “coroá-lo” (como costumamos brincar) reunimos em assembleia equipe e conselheiros do Instituto numa celebração cheia de memórias e reflexões, mas o que é uma assembleia? O Fá é parte da equipe do Instituto há seis anos e passada a euforia da transição (ou não), o chamei para entender este e outros questionamentos como por exemplo, o que significa esta transição. 

 

“O Procomum é uma ONG e para que ela exista há uma burocracia nacional que exige que algumas pessoas estejam para que ela funcione. Há um estatuto padrão feito pela contabilidade e lá consta que a diretoria é eleita e colegiada: nossas decisões são deliberadas em conjunto. Ano após ano realizamos uma assembleia para atualizar a constituição dessa instituição.” Fabrício Freitas

Equipe IP e Conselheiros reunidos em assembleia

 

Durante a abertura do evento, Rodrigo Savazoni, relembrou a abertura da primavera e para  florescer, contamos com a presença dos conselheiros Mauro Mariano de Assis, Niva, Dani Flor, Simone Oliveira e Carlota Mingolla. Por lei, nos reunimos anualmente, mas por termos atravessado o período pandêmico, esse encontro por vezes aconteceu de forma. A assembleia teve por objetivo a nomeação de Fabrício, a aproximação de conselheiros para tomada de decisões e para a colheita de percepções a respeito de como estes conselheiros enxergam a atuação do IP de fora para dentro. 

 

É importante ressaltar que a promoção de Fabrício traz para as camadas de decisão a visão de um homem negro, LGBTQIAP+ e de origem pobre. Todos estes fatores reunidos são relevantes posto que o IP também se configura como um Fundo e Fabrício possui um olhar diferente para a forma de se relacionar com o dinheiro e diz que gastar dinheiro com o Cuidado, um dos pilares da nossa instituição, é a coisa mais importante que têm realizado. . 

 

“Aqui no IP aprendi que o dinheiro é sim a solução. Estar aqui pensando em cuidado e em como o dinheiro pode estar a serviço das pessoas e pode mudar a vida das pessoas é muito importante pra mim. A Magui abria muito espaço para que eu experimentasse e colocasse as coisas que eu enxergava a partir da minha perspectiva de cuidado e de dinheiro. Por isso estar nessa posição não é um peso, é um caminho orgânico, mas que agora me faz ser parte da discussão de soluções de desafios que antes eu cobrava. 

 

Tô bem feliz, meu avô faleceu um dia antes que eu tomasse posse. Minha família toda é nordestina e de origem pobre. Todos os meus antepassados já passaram fome e enfrentaram a escassez de uma colheita ruim. Eu fui o primeiro a me formar e há muito tempo não fico sem trabalho. Tudo aconteceu de forma muito natural, estou há cinco anos construindo muito do que o IP é hoje, mas quebrei um ciclo familiar muito grande aos 27 anos de idade. 

 

Eu não cheguei nesse lugar me prendendo só ao lugar de administrador, eu amo andar descalço no LAB, eu amo produzir no LAB, eu amo lavar a louça do LAB, eu amo varrer e pensar como derrubar uma parede para aumentar uma sala e colocar mais 30 pessoas lá dentro. Então, essa construção do dinheiro me leva a outros lugares.” Fabrício Freitas 

Festa comemorativa IP 7 anos Foto: Olhar marginal

A celebração faz parte da nossa metodologia, terminamos o dia celebrando com a nossa comunidade os sete anos da nossa instituição olhando para todas as ações que temos executado. Celebramos o LAB,  as ações relacionadas ao clima, às negritudes, ao cuidado, ao território, ao apoio ao pequeno empreendedor. Também celebramos Magui, Lia Rangel, e tantos outros nomes que por aqui passaram e permanecendo ou não, são parte da nossa base. 

 

Dentre os sorrisos, desafios, Simone fala sobre a dificuldade do campo da filantropia, da dificuldade de desenharmos um planejamento sendo que os financiamentos vêm sempre através dos projetos. Como a gente também pode não reverberar essa lógica nos editais que fazemos, para que a gente repassa dinheiro para pessoas que têm iniciativas, não somente iniciativas. Muitas vezes as pequenas organizações também não conseguem olhar para a sustentabilidade, que olhem também para as atividades meio para se fortalecerem. Rodrigo relembra de desafios ainda não superados, como a não captação de recursos para a Colaboradora, a nossa escola livre de formação de artistas. 

 

Todos os conselheiros presentes expuseram suas visões e conselhos. Foi bonito ver Dani e Niva reconhecerem nosso amadurecimento e ouvir novos caminhos a serem trilhados como o que Carlota apontou quando diz que a sistematização é uma forma de bancar nossa existência ou quando Maurão traz os entraves que a atividade portuária nos impõe como cidadãos atuantes na Baixada Santista. 

 

Há pouco mais de um ano faço parte da equipe do Instituto e quando a Magui me chamou para compor esse time, me deu como missão: contar a história das pessoas. Isso é enorme, as pessoas são universos e o que acontece é que quase toda vez que me sento para realizar entrevistas, tenho aulas. Uma das minhas visões particulares é que o IP recupera sentidos afogados pela pressa capitalista. Aprendemos muito com a Magui e seguiremos aprendendo com o Fá, com a Geo, com o Rô e com todos os que ousam experimentar o jeito IP diferente de seguir.

 

“Eu nunca quis pensar no dinheiro até porque quando nascemos em uma família não branca, você nascei aceitando a ausência dele. Desde criança eu achava que ele podia resolver tudo, e no modo que esse mundo opera ele não pode curar tudo, mas pode sim ajudar a derrubar muitos obstáculos que o próprio capital criou para o povo que constrói e cuida da nossa sociedade do chão ao topo, e mesmo negando sonhar em ter, mobilizar e pensar dinheiro, quando eu vi e fui desafiando a minha própria carreira e caminhos me convocaram a estar no lugar de profissional e artista que pensa em dinheiro, sim, mas não o dinheiro do acumulo, mas o dinheiro que ajuda a curar, cuidar e trazer o mínimo de dignidade pra gente desconstruir tanta desigualdade e violência estrutural para os corpos/ corpas considerados não dignos de ter poder e recursos para construir uma vida, sonhos, comunidades… entendendo que sim as pessoas negras, lgbts+, mulheres precisam estar sim nas discussões sobre como construir e conduzir recursos pra cuidar, levantar e facilitar a retomada de autoestima, possibilidade de sonho, de alimento, de  moradia, locomoção, lazer, cuidados tantos… eu quero pensar e falar mais dessa jornada que é organizar, refletir, improvisar, ceder e vislumbrar novos jeitos de redistribuir e usar aquilo que é majoritariamente construído e acumulado sobre corpos/ corpas usados para que outros corpos majoritariamente brancos se beneficiem da nossa escassez após a entrega de tudo que temos “energia vital e criativa”… hoje eu me vejo aqui podendo sonhar, falar e desafiar o uso desse bem que parece sujo ou intocável, mas que foi e é acumulado sobre nossa energia e que precisa trabalhar para que ela seja renovada e não esgotada como fazemos com tanta coisa… a conta não fecha, mas a gente  vai ensinar a eles (pessoas brancas) que o mundo é cíclico e não utilitário…”  Texto escrito por Fabrício Freitas ao retornar do LA Cuida –  Colômbia

Fabrício Freitas – Foto: Vivi Alves

1920 2560 glaucia
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1 comentário
  • Poxa Glau, chorei aqui. Amei o texto, faz a gente perceber com maior grandeza toda a complexidade de cada um, emocionante ver o Fabrício arrasando. Parabéns

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