Feliz aniversário, Procomum!

Faz pouco mais de um ano que cheguei no Instituto Procomum como membro da equipe, mas conheci o Instituto lá em 2020, quando uma amiga me disse “Faz a Colaboradora, tem tudo a ver com você”. Eu  não sabia bem o que era a Colaboradora e muito menos que ela seria um divisor de águas na minha vida. Eu havia voltado a morar na Baixada Santista após oito anos truncados na capital paulistana e estava cheia de sonhos e talvez tenha sido exatamente por isso que a minha amiga tenha achado que no meu caminho devia haver o Procomum. 

 

O Procomum é espaço que estimula o sonhar em conjunto. Há sete anos, Rodrigo Savazoni, idealizou um espaço onde as pessoas pudessem viver de uma forma diferente porque, segundo ele, nós que aqui estamos não gostamos do jeito que as coisas estão sendo por aí. Entre erros e acertos, idas e vindas, chegamos aos sete anos de história e para nós, adeptos da magia, o primeiro setênio é a primeira fase do amadurecimento do corpo: inauguramos a fachada e o espaço de conhecimento multimídia, revitalizamos os ateliês e criamos protocolos para manutenção dos espaços.  Tudo isso para que nossa comunidade floresça cada vez mais em nosso lab. 

 

Muitas vivências circulam pelos nossos espaços e são atravessadas pelas nossas metodologias, por vezes é difícil compreender o que nos une e ter chegado a equipe em 2022 faz com que muitas vezes eu não compreenda como chegamos até aqui. As ideias não são impostas, as regras são convidadas a serem quebradas. Tentando entender, desacelerei os processos nos quais estava inserida nesta semana em que realizamos a nossa festa comemorativa, reunião da assembleia e seminário da filantropia (ufa!) e sentei ao lado de Rodrigo Savazoni.

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Glaucia: Me conta de onde surge o Procomum?

 

Rodrigo: O Procomum nasceu em um contexto muito desfavorável. O Brasil já estava num estado bem complexo e parte da angústia que leva a construção do Procomum nasce da minha experiência em ter construído redes e articulações nas ruas de São Paulo no período que antecedeu a eleição do Haddad e depois de ter vivenciado o junho de 2013 que foi uma fissura na história da política brasileira e percebido que havia um descompasso muito grande entre aquilo que estava vindo e emergindo das ruas e a  nossa capacidade de resposta institucional, seja por meio do estado ou por meio das organizações da sociedade civil que também ficaram atônitas diante do que estava acontecendo ali. Quando eu saí do posto de chefe de gabinete da prefeitura, pensei que era interessante para mim reposicionar todo um conjunto de coisas que eu vinha pensando para colocar em prática. Eu olhava para o lado e não enxergava onde estar e eu pensei que se eu não sei onde estar, preciso inventar um lugar novo. Após um período de pesquisa para compreender do que se trata, em 2015, conversando com várias pessoas, eu começo a especular a ideia de construir uma nova organização. Era uma ideia embrionária que vinha do desejo de um outro jeito de fazer política que emergia tanto das ruas, quanto das redes.

 

Eu já tinha claro que viveríamos uma retração no Brasil. não sabia exatamente o tamanho do que seria, mas sabia que aquilo que a gente tinha experimentado de uma ideia de que a nossa democracia poderia se consolidar e que avançariamos na direção de uma sociedade mais justa e igualitária, estava em retração. A partir daí, eu escrevo um projeto chamado “Instituição de Cultura Digital” e apresento para a Fundação Ford. Simultaneamente a isso, foi aberto, pelo Mídia Lab Prado, um edital para pessoas interessadas em construir seus laboratórios, eu me inscrevo e o projeto é selecionado.

 

No começo do ano eu estava com financiamento para começar e a Georgia estava para sair do cargo que ocupava no ministério da cultura e eu disse para ela: vamos começar? e ela disse “vamos”. Começamos concebendo o LAB.IRINTO, que era um percurso de compreensão e de vários eventos que aconteceu no primeiro semestre de 2016. Neste contexto conheço a Magui que era minha professora de educação física. Corríamos, treinávamos, e conversávamos, neste processo eu descobri que ela era uma profissional de outras áreas. Contratei ela como controller, um profissional e supervisiona a execução da produção. Ela entregou o projeto super bem e eu a convidei para construir o Procomum junto comigo.

 

Glaucia: E o conceito do “Comum”? Quando surge na sua vida e porque você acredita que é tão importante fazê-lo intrínseco em nossos processos?

 

Rodrigo: A primeira vez que o Comum aparece pra mim, foi no Fórum Social Mundial no início do anos 2000, ainda num momento em que a internet vivia um processo mais heróica, as coisas eram menos comerciais, as coisas vieram se articulando disruptivamente, deixando o capitalismo “sem calça”. Ali aparecem as licenças de Creative Communs que eram licenças de compartilhamento de conteúdo que ficaram muito famosas nessa época porque eram uma forma de você rever a noção de propriedade do ambiente digital e nessa época eu tomo contato com esse conceito.

 

Glaucia: E como saber que se está no caminho certo se você é um dos primeiros a desbravá-lo? O que você identifica como acerto?

 

Rodrigo: Tem três pontos que são muito importantes. O LAB Procomum sempre foi esse lugar de experimentar uma outra forma de viver e produzir e poder vislumbrar que era possível, que tinha gente disposta a estar junto com a gente e que pessoas pensam por aqui e saiam transformadas.”

 

Eu acho que quando as pessoas cruzam essa porta, elas vislumbram que as coisas podem ser diferentes e durante algum tempo a gente manteve essa porta em segredo e agora a gente resolveu escancarar, a gente quer cada vez mais gente vindo participar dessa brincadeira, a gente foi ganhando força e construindo as coisas de uma maneira muito madura e sólida. Perdemos gente pelo caminho e entendemos que os processo não são lineares, mas eu acho que o que  estamos construindo aqui, abre possibilidades para que as pessoas se coloquem, se posicionem e construam em conjunto. Esse projeto foi muito transformado por todo mundo que participou dele.

 

O que estamos percebendo é que hoje temos um papel muito forte, temos um aparelho muito potente nas mãos. poucas instituições têm um espaço completamente novo, reformado, adequado com tudo que precisa para funcionar, seguro bonito gosto com metodologias muito bem desenvolvidas para acolher a comunidade. Temos uma capacidade grande de angariar recursos. As pessoas querem estar aqui e fazer parte. Para mim, o lab está nascendo agora com essa fachada aberta, com essa nova roupagem, com essa cara dizendo: venham a mim.

 

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Para mim, estar no Procomum é estar em estado de constante aprendizado, nossa equipe é composta por saberes diversos confirmando os dizeres estampados em nossas paredes “Entre, seu saber é bem-vindo”. Nesta terça-feira, 26 de setembro, Rodrigo Savazoni defendeu sua tese de Doutorado  “O Comum na Encruzilhada: cartografia de um laboratório cidadão” sinalizando que a construção do que fazemos é uma pesquisa constante da qual todos estão convidados a contribuir para que juntos possamos partilhar. No final das contas, somos um grupo de pessoas focados em testar metodologias para que possamos viver melhor e com mais igualdade, para isso buscamos democratizar as vozes, construir redes, fortalecer comunidades e colaborar. 

 

Queremos multiplicar a presença das pessoas aqui, para isso reestruturamos a equipe e pretendemos ter pessoas para recepcionar quem chega de terça a sábado das 9h às 21h. estamos desenhando um plano anual de captação para que o LAB funcione em plena potência em 2024. Paralelamente a isso o Instituto Procomum se expande para outros territórios objetivando espalhar laboratórios cidadãos em todos os lugares que a gente puder. 

Vida longa ao Procomum! (Prococó para os íntimos)

1280 960 glaucia
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