LAB Tempestade e seus desdobramentos

O número de desastres fatais ocorridos nos dois últimos anos acende um alerta ainda maior para os efeitos das crises climáticas e nos impulsiona a agir. Ao longo dos últimos sete anos, o Instituto Procomum vem testando diferentes metodologias de ativação de redes locais, sobretudo a partir de seu laboratório cidadão.

Entre maio e junho de 2023 aconteceu o LAB Tempestade Baixada Santista, a edição aconteceu depois da experiência recifense realizada em parceria com a GIG e a casa Criatura. O LAB Santista culminou em quatro protótipos realizados pelos grupos selecionados: Vigilante temporal, Permeabilidade, Escuta-Clima e Mangue-Lambe. 

Victor Marinho, Gerente de Inovação do IP, sempre menciona que protótipos de sucesso são aqueles que formam redes e deu certo! Nos últimos finais de semana, membros dos grupos conectados pelos LAB Tempestade Baixada Santista se reuniram para dar continuidade aos debates iniciados no primeiro semestre de 2023 em nosso Galpão Multiuso. 

Vale a pena contar essa história:

O LAB Tempestade BS teve início com uma aula ministrada por Adriano Liziero na sede do IP. Luana Camargo, que há tempos faz parte da nossa comunidade, havia sido contratada para fazer o cathering do evento, mas manteve-se atenta as palavras de Liziero enquanto cozinhava e levou as informações colhidas ali para sua comunidade no morro do Pacheco. 

“EU FIQUEI MARAVILHADA PORQUE SÃO COISAS QUE EU NÃO CONHECIA. EU ACHAVA QUE A BARREIRA CAIR E AS PESSOAS MORREREM ERA UMA FATALIDADE INEVITÁVEL, MAS NÃO: COM GRÁFICOS E IMAGENS ELE (ADRIANO LIZIERO) EXPLICOU QUE O GOVERNO SABE. ELES SABEM O QUE VAI ACONTECER E AS MEDIDAS QUE PRECISAM SER TOMADAS.

UMA DAS COISAS QUE MAIS CHAMOU A MINHA ATENÇÃO FOI QUANDO ELE DISSE QUE O GOVERNO TEM DINHEIRO PARA PREVENÇÃO, MAS ELE NÃO O INVESTE, DEIXAM PRA LÁ E VAI ACONTECENDO. AQUI NO MORRO DO PACHECO, NÃO SABÍAMOS QUE TINHA COMO EVITAR.

MAS POSSO DIZER QUE UMA COISA QUE NÃO ESTAVA ACONTECENDO ERA A COBRANÇA. APENAS UMA PESSOA IA LÁ COBRAR: DOIS DIAS ANTES A ESPOSA DE UMA DAS VÍTIMAS TINHA IDO ATÉ A PREFEITURA PEDIR PARA QUE ELES COLOCASSEM A MANILHA NO LUGAR E ELES NÃO COLOCARAM. DOIS DIAS DEPOIS DESCEU O MORRO TODO E MATOU O MARIDO DELA.

DEPOIS DO OCORRIDO UM GRUPO DE MORADORES DO MORRO SE JUNTOU PEDINDO PARA QUE ELES (A PREFEITURA) ARRUMASSEM A BAGUNÇA QUE FICOU. DOIS ANOS DEPOIS E  NADA FOI FEITO. UM DOS MORADORES DAQUI, O JOSELITO CARDOSO, TIROU DINHEIRO DO PRÓPRIO BOLSO PARA ABRIR A ASSOCIAÇÃO DE MORADORES DO PACHECO PRA TENTAR ORGANIZAR OS MORADORES.”

LUANA CAMARGO

No dia 24 de setembro, Luana reuniu no quintal da sua casa moradores da região, lideranças populares locais para que ouvissem do ambientalista Geraldo Varjabedian ensinamentos a respeito da falta de ação do poder público diante dos impactos provocados pelas crises climáticas para que assim possam reivindicar direitos e ações. O encontro finalizou com o desejo de trazer mais moradores para a luta. 

Geraldo e Luana

Roda de conversa no Morro do Pacheco

Outro encontro aconteceu no dia 30 de setembro e foi carinhosamente de “Fazendo as pazes com a água” quando o grupo “Permeabilidade” fez em tamanho real o protótipo de “Calha-Flora” que antes havia sido apresentado como maquete. Trata-se de um dispositivo que, ao recolher água das calhas, reduz o fluxo de água remetido para a rede pública. O arquiteto Pedro  que prototipou o dispositivo explicou que além do objetivo principal, o dispositivo pode vir a servir para usos secundários como para a filtragem e reaproveitamento de água e para jardinagem. O grupo pretende apresentar o projeto para outras comunidades e entende que “calha-flora” não é uma solução definitiva para as chuvas em áreas de risco, mas serve para a formação de redes e como um primeiro passo para futuras articulações.

“A gente pegou o nome “Fazendo as pazes com a água” por que percebemos que na nossa região há mais de 250 áreas em situação de risco por conta de deslizamentos ou enchentes. Nossas comunidades tem traumas em relação a isso e criaram uma relação de medo e a gente quer mostrar que a gente tem que ter uma relação de parceria com a água porque o problema não é a água e como as pessoas estão administrando as águas e os rios. Desejamos realmente interferir nas decisões que estão sendo tomadas na região. Elas precisam ser pensadas a para o benefício das comunidades e não apenas focadas na especulação imobiliária como tem sido feito. A ideia é disputar os processos de urbanização”  Fabiana Nascimento

Encontro para realização do calha-flora

 

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