A oficina-laboratório Cartografias Sensíveis em espaços públicos, de Santiago cao, é um mapeamento de formação, pesquisa e ação para investigação de espaços públicos próximos ao #LabSantista para criar e produzir dispositivos performáticos. Leia relatos de dois dias de vivências nessa oficina:
Exercício 1 – Diminuindo os pontos de apoio ( ou como tornar possível o impossível)
Em um dos encontros, o grupo participou de um exercício corporal que favorece como pensar a potência do encontrar em uma prática que não seja um planteio teórico. É como criar um exercício de experiência do encontro de corpos para falar de potência – e potência não é apenas força, mas possibilidade.
A primeira regra é estabelecer a linguagem não impositiva, seja a palavra ou a mímica, com os seguintes acordos:
1- Poder-não falar (por poder não falar, posso sim entrar em outras formas de comunicação que não seja só a palavra);
2- Sempre tocar um corpo;
3- Formar um único grupo;
4- Não impor;
5- Conseguir reduzir o número de contatos no chão (seja os pés, as mãos, ou outra parte do corpo) no chão.
Como tornar possível o impossível?
“Se oito corpos conseguem apenas cinco pontos de apoio juntos, significa que três corpos estão levitando? Se esses oito corpos estivessem isolados, conseguir 5 pontos de apoio significaria que haveria pelo menos cinco pessoas com um pé no chão e três pessoas voando ou levitando – o que seria impossível de pensar em nossa realidade.
Porém esse impossível tornou-se possível graças aos corpos que se encontraram e não ficaram isolados. Eles conseguiram colaborar mutualmente. Conseguem tornar possível aquilo que em solidão seria impossível. Juntos potencializaram-se e conseguiram aquilo que julgaram impossível”, Santiago Cao.
Como expandir o repertório do possível?
“Se somos diferentes, talvez meu repertório do possível seja diferente do seu repertório do possível. Juntamos os diferentes, para que o diferente ative possíveis outros. E talvez a potência do espaço público é mutualmente afetarmo-nos com as possibilidades dos outros.
Como expandir o repertório do possível através dos possíveis dos outros e das outras? Faz falta criar encontros, não só fisicamente próximos, mas de afeto (existem pessoas que passam a vida inteira juntas e nunca se encontraram).
Ou seja, o afeto não é entendido como sinônimo de carinho (esse é apenas mais um tipo de afeto). Nesse sentido, ele (o afeto) não é bom nem ruim e sim o que pode aumentar ou diminuir as nossas possibilidade de pensar, desejar e agir”, Santiago Cao.
Exercício 2- Guia-da
Em outro exercício, o Guia-da grupo foi convidado a formar duplas e uma pessoa estabelece o papel de guia e outra de guiado, esse de olhos fechados. O guia utiliza um cordão elástico para levar a pessoa até onde ela quer que o guiado dirija sua sensibilidade.
“O processo de sair para a rua é complexo. É difícil passar para os outros que só estão vendo uma linha. A linha une dois corpos e a proposta é que seja o canal de comunicação. O corpo que está guiando está de olhos abertos e outro de olhos fechados.
A única comunicação que existe é puxar a linha. Se quiser te mostrar algo vou puxar a linha até a direção de algo que quero mostrar e você vai sentir e vai nessa direção.
Só que essa linha é levemente elástica – o que faz com que a pessoa que está guiando não consiga transmitir com clareza onde está querendo levar a pessoa guiada de olhos fechados. E essa falta de clareza cria novas possibilidades.
Se a pessoa de olhos fechados entendesse perfeitamente, faria exatamente o que o guia está propondo. Como não entende e está de olhos fechados, acaba encontrando coisas que o próprio guia de olhos abertos não havia visto”, Santiago Cao.
“O que o guia enxergou e tentou levar à pessoa guiada fez com que ela, por estar com os olhos fechados, pudesse perceber algo mais sútil que não foi percebido pela pessoa de olhos abertos.
Ou seja, o guia de olhos abertos acabou ficando cego e a pessoa que está de olhos fechados acaba podendo ver – uma outra forma de ver – o que a pessoa de olhos abertos não pode enxergar.
Nessa junção, o que pretende-se mostrar é uma terceira possibilidade – a con-fusão, uma posição com outros, que não é nem o que o guia de olhos abertos queria mostrar e nem o que a pessoa guiada de olhos fechados queria fazer. E sim como podemos compor possibilidades outras.
É como se 1+1=3 porque o encontro possibilitou a soma de diferentes realidades e repertórios. O 1+1=2 existe e continuará existindo, mas podemos criar novas resoluções que nem sempre resultem em 2, abrindo para terceiras, quartas e quintas possibilidades resultantes desses encontros. São possibilidades que constroem-se juntos.”, Santiago Cao .