Entre 1º e 10 de dezembro, as praças, ruas, calçadas e muros da região da Bacia do Mercado (bairros do Paquetá, Vila Nova e Vila Matias), em Santos, serão ocupados com espetáculos de dança e circo, sessões de cinema, batalhas de poesia, graffiti, bailes e rodas de música. Nesses dias, ocorrerá o COMUM – Encontro de Culturas e Comunidades, um festival colaborativo articulado pelo Sesc Santos, pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e pelo Instituto Procomum (IP). Círculos de conversa convidam a dialogar sobre o direito à moradia e ao território, históricos de ocupação e uso do solo, as histórias e memórias da região, práticas e políticas comunitárias, negritude e ancestralidade. Fomentando a convivência entre artistas, professores e estudantes universitários, membros de organizações comunitárias, moradores, trabalhadores e frequentadores da região, todas as atividades são gratuitas e abertas a quem se interessar.
O projeto investe na arte, na cultura e nas ações em espaços públicos como vetores de mobilização e celebração coletiva, em sua potência de possibilitar encontro e convívio das diferenças. Busca ainda dialogar com as práticas, repertórios estéticos e culturais do território e se integrar a eventos que formam a identidade da região, a exemplo da Feira do Rolo e dos bailes de rua, bem como privilegiar estruturas de organização comunitárias e colaborativas, como um café da manhã e um piquenique nos quais os interessados são convidados a contribuir voluntariamente com itens a serem compartilhados coletivamente.
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O evento se inicia com a inauguração da Radiola da Silva, rádio comunitária ambulante inspirada nas “bicicletas-de-som” da cultura popular de rua de várias regiões e cidades brasileiras, que vai percorrer as ruas da Bacia do Mercado amplificando um repertório musical especial, anúncios da programação e histórias do bairro. Trata-se de uma iniciativa da radiosilva.org, projeto de extensão universitária da Unifesp.
Ao longo da semana, ocorrem também as ações de encerramento do ano de 2018 do projeto A Colaboradora, processo de 10 meses de residência artística no Instituto Procomum, dentro do qual foram desenvolvidos 13 projetos de arte e cultura com dimensão comunitária, propostos por artistas da cidade. As experiências de relação cotidiana com o território da Bacia do Mercado alimentaram a criação dos trabalhos que serão apresentados durante o encontro.
As atividades se intensificam no final de semana de 8 e 9 de dezembro, com uma grade programática que se estende do início da manhã até o final da tarde do sábado e domingo. No sábado, dia 8, as ações se concentram nos arredores do Mercado e estação das Catraias, e no dia 9 se agregam à Feira do Rolo, na Praça Rui Ribeiro Couto. A programação termina no dia 10 de dezembro, quando se celebram os 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, com uma sessão de filmes e roda de conversa sobre Cinema e Direitos Humanos.
O projeto começou a ser gestado em outubro de 2017, por profissionais do Sesc, da Unifesp e do Instituto Procomum motivados pelo desejo de tecer, através das três instituições, aproximações e diálogos com a Bacia do Mercado Municipal de Santos. Região estratégica dentro do novo plano diretor da cidade, sob a qual incidem projetos de revitalização do Centro e de extensão do Porto que impactam casas, comércios e campi universitários da região em seus tecidos urbanísticos, de patrimônio arquitetônico, sociocultural e afetivo. É também ali um epicentro de problemáticas sociais basilares à história da cidade e do próprio país: a exploração e resistência dos povos negros e ameríndios desde a colonização portuguesa aos processos de exclusão territorial e gentrificação similares aos que ocorrem em diversas metrópoles brasileiras.
A proposta inicial era lançar luz sobre essas e outras questões pulsantes no território, partindo de três eixos conceituais: o comum, a cidade e o corpo do outro.
Com o anseio de traçar um processo de escuta e de construção colaborativa, realizaram-se dois encontros de curadoria aberta, em abril e agosto deste ano, para os quais foram convidados artistas, produtores culturais, assistentes sociais, psicólogos, professores e estudantes universitários da cidade. Tais encontros partiram de uma consigna inicial calcada em três eixos norteadores (Práticas, Conceitos e Tecnologias) e três perguntas disparadoras: Que palavras/ideias podem dar conta de outras formas de fazer mundos? Quais práticas se fazem necessárias para evitar o ocaso da própria vida? Como liberar a criação tecnológica na direção do comum?
A partir das discussões dessas duas jornadas e no longo percurso de maturação do projeto, foram levantadas atividades reflexivas, de experimentações de tecnologias e experiências vivenciais coletivas. Algumas delas já tomaram curso no segundo semestre de 2018, como as ações dos artistas participantes de A Colaboradora, bem como a Roda de Afinação Acordos Acordes e o Cinema na Rua, que vêm acontecendo desde setembro na Marquise do Mercado, por iniciativa de professores e alunos ligados ao Laboratório de Sensibilidades da Unifesp.