A metafísica do corpo se entremostra nas imagens. A alma do corpo modula em cada fragmento sua música de esferas e de essências além da simples carne e simples unhas.
Em cada silêncio do corpo identifica-se a linha do sentido universal, que a forma breve e transitiva imprime: a solene marca dos deuses e do sonho.
Entre folhas, surpreende-se na última ninfa o que na mulher ainda é ramo e orvalho e, mais que natureza, pensamento da unidade inicial do mundo: mulher planta brisa mar, o ser telúrico, espontâneo, como se um galho fosse da infinita árvore que condensa o mel, o sol, o sal, o sopro acre da vida.
De êxtase e tremor banha- se a vista ante a luminosa nádega opalescente, a coxa, o sacro ventre, prometido ao ofício de existir, e tudo mais que o corpo resume de outra vida, mais florente, em que todos fomos terra, seiva e amor.
Eis que se revela o ser, na transparência do invólucro perfeito.
” A metafísica do Corpo”.
( Carlos Drummond de Andrade)
Foto por Bete Nagô.
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