Eu escrevo poesia desde os meus 12 anos, como uma forma de refúgio e uma forma de amenizar a inquietação da minha cabeça. Lembro que quando comecei a escrever eu não costumava pensar nas palavras que viriam uma após a outra, mas elas se costuravam como uma colcha de retalhos, as palavras surgiam e eu as colocava no papel.
Isso evoluiu para uma escrita com pensamento, onde eu procurava coisas para escrever sobre. Com o tempo a motivação da escrita mudou, minha cabeça já era mais quieta e não haviam tantos problemas pra escrever e, em um momento de paz, percebi que deveria mostrar para as pessoas o que eu escrevia.
Durante a morada no interior de São Paulo comecei a veicular pelas redes minhas poesias com o instagram @sopassagens. E eu volto pra esse tempo no interior, quando nos vejo nesse momento de pandemia, porque eu não tinha contato com quase ninguém lá, conhecia poucas pessoas e passava a maioria do tempo só eu e a escrita como refúgio.
As blusas bordadas surgiram como uma forma de veicular a poesia fora dos livros e da internet, como uma forma liberta para ela andar onde quiser, levada no peito de alguém, em alguma jaqueta…
Procurei colocar poesia onde antes não havia e transitar arte onde antes não transitava. As blusas levam um pedaço de mim por aí pra passear, sem necessidade de me locomover e me fazem conhecer pessoas sem precisar de uma conversa prévia.
Nos poemas eu procuro retratar a boemia marginal e a vida periférica, procurando nos detalhes da nossa vida rasteira alguma coisa que valha a pena ser lida ou relatada. Tento nos meus versos colocar um pedaço de cada um que sobrevive à pressão social que é ser da favela, porque antes de qualquer movimento artístico e social que fiz parte, antes de tudo isso, eu fiz e faço parte da minha comunidade e isso me torna antes de qualquer título auto nomeável como artista ou poeta, eu fui favela e tomo com orgulho a identidade de onde eu vim, e retrato na minha escrita o que é ser, o que nós somos. Favela.
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