Galeria Imaginária

“Galeria imaginária” é uma intervenção de arte urbana desenvolvida pelo artista Fernando Gois, construída a partir de desenhos e outras criações artísticas de crianças e jovens de Santos, mais especificamente da região conhecida como “Bacia do Mercado”.
O projeto nasceu da vontade de criar uma ação artística que extrapolasse os limites da virtualidade digital, buscando outras formas viáveis de encontro. Surgiu a vontade de materializar algo que oferecesse uma alternativa de fruição e criação artística as crianças e jovens da “Bacia do Mercado”, que pudesse ser realizada sem aglomeração e levada para as residências das participantes, reforçando as medidas de isolamento vigentes. A partir disso, tive a ideia de elaborar kits, contendo um “caderno de artista” feito artesanalmente por mim, materiais de desenho (lápis grafite, borracha, apontador, lápis de cor, giz de cera, tesoura e cola) e um livro infanto-juvenil. O “caderno de artista” é um sketchbook que, além de folhas em branco, possui algumas sugestões de práticas em artes visuais baseadas no processo de criação do artista realizador. O kit contém uma carta aos responsáveis pelas participantes, fornecendo dados de contato explicando a proposta, que consiste na utilização dos cadernos e do material de desenho pelas participantes , no registro fotográfico/digital desses desenhos para editá-los digitalmente e criar lambe-lambes em diversos tamanhos que irão compor uma exposição pelas ruas do território, a “Galeria Imaginária”. Assim, após a distribuição dos kits, entrei em contato com algumas participantes que me procuraram, via internet, para acompanhar o processo e receber as fotos das criações feitas nos “cadernos de artista”.
A ideia inicial era distribuir os kits a partir de um ponto de entrega no território. Porém, devido à dificuldade de contato e ao fechamento de muitos estabelecimentos devido a pandemia, resolvi que iria para a rua fazer as entregas. Tomada essa decisão, resolvi pensar em formas de distribuição a partir de intervenções performáticas no território, trazendo o meu trabalho como artista cênico para o projeto. Dessa forma, realizei 5 incursões ao território para a distribuição dos kits e colagem dos lambe-lambes, que estão resumidas abaixo:

Em colaboração com artista Ana Letícia, formamos uma dupla de palhaços, “Fêrruge” e “Preta”. Andamos pelo território acompanhados do fotografo Andrey Haag e do assistente de produção Dan Calunga. Percorremos ruas e praças ao som de batidas de funk carioca instrumental, dançando e brincando, interagíamos com as poucas pessoas que estavam no território no dia. Encontramos majoritariamente mães/cuidadoras e crianças, com as quais explicamos o projeto, distribuímos os kits e fizemos intervenções a giz no espaço, com desenhos e palavras. Essa primeira saída ocorreu em um Domingo, um dia de fluxo atípico na região com alto fluxo de pessoas durante a semana devido à proximidade com o centro comercial. Distribuímos apenas 10 kits e aproveitamos o restante da ação para investigar o território, reconhecendo pontos de encontro e convivência, que ocorrem apesar da pandemia, os fluxos de passagem, áreas com maior ocupação por pessoas em situação de rua, etc.

A segunda intervenção foi realizada por mim, novamente encarnando a figura do palhaço, e pelo fotógrafo Andrey Haag. Distribuímos mais alguns kits e novamente realizei uma investigação pelo território, dessa vez acompanhado da artista visual Natália Brescancini, com o intuito de mapearmos os locais de aplicação dos lambe-lambes, visto que ela também realizara um projeto que envolve a utilização dessa técnica. Nessa etapa, devido a ausência de contato de grande parte das participantes das quais eu já havia entregado o kit, resolvi distribuir estrategicamente alguns kits para pessoas conhecidas, com as quais eu tivesse maior facilidade de manter contato e receber a devolutiva necessária.

Na terceira ação, acompanhado apenas do fotografo, novamente utilizei a figura do palhaço na performance de distribuição, que dessa vez ganhou outros contornos. F

Fui até um playground público que estava ocupado por cerca de 10 crianças. Liguei o som e comecei a desenhar em uma parede ao lado, quando chamei a atenção das crianças, estabeleci contato a distância convidando-as a participar do projeto. Entreguei os kits e distribui giz de lousa coloridos para cada um, convidando-os a desenhar no chão. Ao som dos funks instrumentais, propus desenhos livres e a partir de formas que desenhei no chão. Logo preenchemos todo o espaço do playground com desenhos, palavras, cores e movimentos. Os desenhos foram registrados em foto para serem editados e utilizados na intervenção.

Após receber a devolutiva de um número considerável de participantes e editar as fotos dos desenhos a giz feitos durante a performance anterior, produzi o material para a primeira intervenção, que realizei junto colaboração com a artista Natália Brescancini e o fotografo Andrey Haag. A intervenção foi realizada por meio da técnica de lambe-lambe “quebra-cabeças”, na qual uma imagem é dividida em várias partes impressas em folhas A4 que serão “montadas” durante a aplicação, criando uma versão ampliada dos desenhos. Os espaços ocupados pela intervenção foram pensados a partir da observação dos fluxos do território, buscando diálogo com os espaços de convivência e com os atravessamentos produzidos durante a distribuição dos kits, além da ludicidade na ocupação espacial, em referência as brincadeiras de rua, e também outras obras de artes urbanas que já ocupam o território. Além dos lambe-lambes em “quebra-cabeças”, colei várias reproduções em tamanho A4 dos desenhos das participantes e um desenho meu. O desenho que produzi para essa intervenção faz parte de um processo de criação que foi provocado durante a realização do projeto: experimentei criar desenhos somente com giz de cera, fragmentados em diversas folhas A3, nas quais as junções das “peças” do “quebra-cabeças” se dá de forma diferente, explorando a assimetria, lacunas e a utilização
de folhas de diferentes cores e formatos.

Na quinta ação, novamente acompanhado da Natalia e do Andrey, colamos outros materiais e estabelecemos contatos na região para conseguirmos autorização para colagem em alguns pontos estratégicos. Nessa ação foram colados apenas desenhos das participantes.

Um dos pontos mais interessantes do processo se deu com a interação das pessoas do território e transeuntes durante a aplicação dos lambe-lambes. Fomos surpreendidos com muitos elogios, agradecimentos e relatos sobre como as obras atravessavam os sujeitos. Felizmente, não tivemos problemas em intervir no espaços, pelo contrário, tivemos incentivos para dar continuidade a ação, com o apoio de moradores do local e a interação com algumas crianças e jovens com a qual troquei contato para que eles pudessem enviar os próprios desenhos para a realização de futuras intervenções. A galeria imaginária é efêmera, sujeita a ação do tempo e do clima, mas também permanente, pois poderá ser constantemente atualizada a partir do estabelecimento do contato com as participantes. Assim, estimular essas crianças e jovens a estabelecerem um novo olhar sobre o espaço onde vivem foi o mais importante.
Além da exposição nas ruas, a “Galeria Imaginária” terá o formato digital, a partir de galerias de fotos e exposições interativas que serão disponibilizadas na plataforma desenvolvida para veicular os projetos da 2°edição da “Colaboradora: Artes e Comunidade”. A ideia é utilizar softwares e websites que permitam a criação de jogos e outros conteúdos interativos, usando as produções artísticas das participantes e do artista desenvolvedor do projeto. Até o momento foi desenvolvido uma exposição na qual as participantes precisam montar um quebra-cabeças para conseguir visualizar o desenho, uma proposta que surgiu em alusão a forma como os lambe-lambe foram aplicados.

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“Imaginary Gallery” is an urban arts intervention developed by artist Fernando Gois based on drawings and other artistic creations of children and teenagers from Santos, particularly the area known as Bacia do Mercado [the Market Wharf].

The project was sparked by a desire to create an artistic action that went beyond the boundaries of the digital realm, searching for other possible forms of connection. This led to an intention to create an alternative form of artistic creation and enjoyment for the children and youth living in the Bacia do Mercado area, one that could be carried out without agglomeration and taken to the homes of the participants, reinforcing the current social distancing measures. The main idea was to develop toolkits containing an “artist’s notebook” handmade by myself as well as drawing materials (pencils, erasers, sharpeners, colored pencils, crayons, scissors and glue) and a children’s book. The “artist’s notebook” is a sketchbook containing not only blank pages, but also suggestions of  visual practices based on the creative process of the artist who produced it. The toolkit contains an explanatory letter to the participants’ guardians with contact information. The process consists of making photographic and digital records of the notebooks and drawings produced by the participants, digitally editing them and generating posters of different sizes to create an exhibit along the neighborhood streets: the “Imaginary Gallery”. Therefore, after the distribution of the toolkits, I contacted some of the participants online to receive the photos of  what they created in the “artist’s notebook”.

The initial idea was to distribute the toolkits physically at a meeting spot in the neighborhood. However, because of the barriers to social contact and the closing of several businesses due to the pandemic, I decided to deliver them. Following that decision, I thought of ways to distribute them through performances in the neighborhood, engaging my work as a performance artist in the project. Ultimately, I made five visits to the area, which are summarized below:

1. In collaboration with artist Ana Letícia, we formed a team of clowns called Fêrruge and Preta. We walked through the area alongside photographer Andrey Haag and production assistant Dan Calunga. As we wandered through the streets and squares to the sound of instrumental Brazilian funk, we stopped to interact with the few passersby we could find. We ran mostly into mothers or caregivers and their children, to whom we explained the project and gave out the toolkits. We also did the first interventions in the space, drawing words and images in chalk. This first visit happened on a Sunday, an exceptionally slow day in an area often bustling with people due to the proximity to the commercial center. We distributed no more than 10 toolkits and used the rest of our time to investigate the territory, identifying the main transit flows, the places with the highest concentration of homeless people, and the main meeting and gathering spaces – which are sometimes still used despite the pandemic.

2. The second intervention was carried out by myself, again as a clown, alongside photographer Andrey Haag. We distributed additional tool kits and I once again carried out an investigation of the territory, this time with visual artist Natália Brescancini. Our goal was to map the places where we could  place the posters, given that she had also done a project with this technique. In this stage, due to the lack of response from most of the participants who had received the toolkit, I decided to strategically distribute other copies to people I knew, with whom it was easier to keep in touch and get the necessary input.

3. In the third action, this time only with the photographer, I once again performed as a clown while I distributed the toolkits, which led to different outcomes. I went to a public playground with around ten children, turned on the music and began to draw in an adjacent wall, making contact with them from a distance and inviting them to be part of the project. I delivered the toolkits and gave out colored chalk to each one, inviting them to draw on the ground. To the sound of instrumental Brazilian funk, I proposed drawings and some sketches that followed shapes that I outlined on the ground. We soon filled the entire playground with drawings, words, colors and movements. The drawings were photographed to later be edited and used in the intervention.

4. After receiving a response from a significant number of participants and editing the photos of the chalk drawings made during the previous performance, I produced the material for the first intervention with artist Natália Brescancini and photographer Andrey Haag. The intervention employed the technique of “puzzle posters”, in which an image is split into different parts and printed on A4 sheets to be “built” during the application, creating an expanded version of the drawings. The spaces in which the intervention took place were located through the observation of the territory, seeking to interact with the  local  dynamic and with the relationships built during the  distribution of the toolkits. The goal was also to create a playful environment in the occupation of space, making reference to the games children play on the street and other urban artworks that can already be found in the area. In addition to the posters and puzzles, I put up several A4-sized reproductions of the participants’ drawings, as well as one of my own drawings. The latter was produced as part of a creative process triggered by this project: I experimented with drawings made with nothing but crayons, fragmented into several A3 sheets that allow the pieces of the puzzle to be put together in different ways, exploring asymmetry, gaps and sheets of different colors and shapes.

5. In the fifth intervention, again in partnership with Natalia and Andrey, we established relationships in the area to get authorization to put up some of the posters in strategic spots. In this activity, only drawings made by the participants were used.

One of the most interesting aspects of the process was the interaction with local people and passersby as the posters got put up. We were surprised by the number of compliments, acknowledgements and descriptions of how the work moved the people. Fortunately, we didn’t face issues in any of the spaces – on the contrary, we were encouraged to continue the actions with the support of local residents. During interactions with some of the children and youth, I exchanged contact information so they could later send their own drawings for future interventions. The Imaginary Gallery is ephemeral and subject to the effects of time and the weather, but also permanent, as it can be constantly updated by the development of new connections with the participants. Therefore, encouraging these children and the youth to develop a new view of the space they live in was the most important thing.

In addition to the street exhibit,  the Imaginary Gallery will also have a digital version through photo galleries and interactive exhibits that at the platform that will be developed for the projects of the second edition of Colaboradora – Arts & Communities. The idea is to use software and websites that allow the development of games and other interactive contents using the artistic productions of the participants and the artist behind the project. Up until now, an exhibit has been developed in which the participants have to build a puzzle  in order to view the drawing – a proposal that references the way in which the posters were put up.

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Coordenação Colaboradora Artes e Comunidades

Marília Guarita
Marina Paes

Mentoria Colaboradora Artes e Comunidades

Coletivo Etinerâncias (Gabriel Kieling e Raíssa Capasso)
Fabrício Lopez
Luciane Ramos
Marina Guzzo

Artistas Colaboradora Artes e Comunidades

Alexandre Almeida
Ana Letícia Figueira (Anita)
Breno Garcia (Groovy)
César Augusto Esteves (Pakko)
Eleonora Artysenk
Elizabete Fitzgerald (Bete Nagô)
Fernando Henrique de Góis
Luiz Augusto Marques (Vida/Marq’s)
Natália Brescancini
Soledad Brandão
Talita Vidal

Equipe Procomum

Breno Garcia
Cássia Sabino
Fabrício Freitas
Geórgia Nicolau
Juliana Freitas
Marília Guarita
Marina Paes
Marina Pereira
Rodrigo Savazoni
Silmara Baron
Simone Oliveira
Victor Sousa

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