Lab de Mudanças Climáticas, parceria entre Instituto Procomum e Conselho Britânico, vai apoiar ações e protótipos de inovação cidadã com soluções para os impactos causados pelas mudanças climáticas; Ação é parte do programa Active Citizens, metodologia global desenvolvida para fortalecimento de líderes comunitários.
Para apoiar as comunidades, as economias e o meio ambiente a se adaptarem aos impactos causados pelas mudanças climáticas, o Instituto Procomum e o British Council lançaram este ano a segunda edição do LAB Mudanças Climáticas. Foram selecionados oito projetos de inovação cidadã voltados à soluções de adaptação às mudanças climáticas de agentes e lideranças sociais de Cubatão, Santos, São Vicente, Praia Grande, Peruíbe e Mongaguá , na Baixada Santista, e Complexo da Maré e Sepetiba, no Rio de Janeiro.
Os projetos irão ganhar um apoio financeiro para a realização das ações além de um trabalho de fortalecimento de sua comunicação e de troca entre pares.
Entre eles, vale destacar a construção de Casa de Cultura Guarani e Cozinha Comunitária na comunidade Tekoa Tangará, em Itanhaém, a montagem de skates com material reciclável em Cubatão, um processo de tecnociência solidária e afetiva na Aldeia Aguapeú, em Mongaguá, ações de educação, arte, conscientização e abertura de diálogo com o poder público na Vila Margarida, em São Vicente.
(Veja a lista completa e as artes de divulgação dos projetos no final da matéria).
Soluções simples e de baixo custo para problemas complexos
Segundo artigo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS) em 2010, estima-se que entre 97% e 98% dos cientistas ativos publicando trabalhos em ciência climática concordam com as conclusões do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, o IPCC, sobre as causas, efeitos e riscos para a humanidade e meio ambiente do aquecimento global. Ou seja, a comunidade científica está em consenso e alerta à questão.
No Brasil, a Baixada Santista é uma das regiões cujo efeitos da crise climática são os mais expressivos. A cidade de Santos foi a primeira da região metropolitana a produzir um plano municipal de mudanças climáticas e a instituir um conselho específico e tratar o tema. Porém, ainda não apresenta um plano base para elaboração de políticas públicas.
A região da Baixada Santista ainda possui o maior número de comunidades indígenas do Estado, abriga as populações caiçaras e grandes áreas de preservação da Mata Atlântica.
Para Marina Pereira, Gerente de Comunidades do Instituto Procomum, a inovação cidadã apresenta soluções de baixo custo e criativas para enfrentar problemas complexos e mundiais, como as mudanças climáticas.
“Entendemos que a crise climática é um problema complexo e mundial, que necessita esforços governamentais e institucionais variados. Por outro lado, em muitos territórios são as comunidades mais vulneráveis que sofrem mais os impactos diretos da crise”, comentou.
Obviamente, o projeto não prevê acabar com o problema global e sim construir soluções que auxiliem as comunidades a se adaptarem aos impactos e apresentar alternativas possíveis que sejam replicáveis ou possam oferecer caminhos. “Quando nos reunimos para prototipar soluções para essa questão, mostramos como as pessoas estão engajadas e determinadas com a preservação da vida. E também para questionar: não estaria nas próprias comunidades parte das soluções para as crises globais?”
Marina Pereira também lembra que o projeto só é possível porque mesmo com as restrições para abertura das atividades devido à pandemia e isolamento social, a rede segue ativa. O LAB Procomum funciona como uma rede de apoio e segue ativo, co-criando soluções junto a outras comunidades da Baixada Santista.
A parceria entre o programa Active Citizens, do British Council e o Instituto Procomum existe desde 2018 e desde então já formou cerca de 200 pessoas na metodologia que é voltada ao fortalecimento de programas de ação social e na incidência de lideranças sociais que constroem soluções em rede para a transformação social e ambiental.
As ações do Lab Mudanças Climáticas farão parte também da contribuição do Programa Active Citizens para a 26ª Conferência das Partes sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas (COP26). A COP26 vai acontecer em Glasgow, Escócia, de 1 a 12 de novembro de 2021 e reunirá mais de 30 mil delegados, entre chefes de estado, especialistas em clima e ativistas para chegar a um acordo para enfrentar as alterações climáticas.
Conheça os oito projetos do programa:
Tecnociência solidária e afetiva: superação das emergências do século XXI
Mutirão na Aldeia Tekoá Aguapeú (Mongaguá) para co-construção de aquecedores solares, biodigestor e minhocário com faḿílias da etnia Guarani M’bya.
A tecnociência solidária e afetiva é uma forma de constituir inovação, tecnologia e ciência
baseadas nos valores de solidariedade, aumento da resiliência e mitigação dos efeitos das
mudanças climáticas.
Território: Aldeia Aguapeú- Mongaguá
Ativadores: Luciana Jorge da Silva e Gabriel Jorge
Eco Maré
Plantio de mudas nativas da Mata Atlântica para revitalizações no território do Complexo da Maré, com objetivo de promover a restauração e proteção do meio ambiente e minimizar o déficit arbóreo da região. Também serão realizadas oficinas de reutilização de materiais recicláveis possibilitando a geração de renda para a comunidade envolvida.
.Território: Complexo das Favelas das Marés
Ativadores: Juliana de Oliveira Cunha , Maria Michele Gomes, Orlando Lira , Juliana Machado
Passeio de REconhecimento 2.0
Passeios educacionais de REconhecimento realizado pelo Ecomuseu Sepetiba visando o engajamento comunitário com a conscientização e educação ambiental crítica e libertadora. Durante o passeio, são compartilhados temas como a conservação do patrimônio histórico, natural, cultural local , sensibilização e criação de dinâmicas geradoras de desenvolvimento sustentável.
Território: Sepetiba-RJ.
Ativadores: Gabriel Braz de Oliveira (Ecomuseu de Sepetiba)
https://instagram.com/ecomuseudesepetiba
SAF Aldeia Indígena Tekoá Kwaray
O projeto busca recuperar uma extensa área desmatada pela mineração dentro da terra Indígena Aldeia Tekoá Kwaray (Peruíbe), utilizando tecnologias e técnicas de plantio agroecológico,meliponicultura, compostagem e formação de mudas.
Território: Aldeia Tekoá Kwaray (Peruíbe)
Ativadores: Mari Polachini Renan dos Santos
Observatório Jovem de Mudanças Climáticas
Produção de uma série documental de três vídeos com depoimentos de comunidades do litoral de São Paulo atingidas e impactadas por danos causados pelas mudanças climáticas em seu dia a dia. O projeto busca promover a conscientização sobre o tema compartilhando experiências que contribuam para o acesso à informação e adaptações.
Território: Santos-SP
Ativadores: Adriano Liziero /Brenda Mendonça
Fortalecimento das Comunidades Indígenas na Baixada Santista
Série de atividades de estruturação e fortalecimento das comunidades indígenas Tekoa Tangará (Itanhaém), Tekoa Paranapuã (São Vicente) e Tekoa Mirim (Praia Grande). O objetivo do projeto consiste em valorizar a cultura indígena e fortalecer as pessoas, redes e a autonomia das comunidades Guarani da Baixada Santista.
As ações previstas incluem a Construção da Casa de Cultura Guarani e Cozinha Comunitária na Tekoa Tangará, construção para da Casa de Saúde Guarani, na Tekoa Mirim (Praia Grande) e o Curso Online Introdutório de Língua e Cultura Guarani. No curso serão abordados os aspectos do modo de vida, o idioma Guarani, as histórias e cosmovisões indígenas, sendo ministrado por professoras e professores Guarani da Aldeia Tekoa Paranapuã (São Vicente).
Território: Tekoa Mirim na Praia Grande Tekoa Tangará em Itanhaém Aldeia Tekoa Paranapuã (São Vicente)
Ativador: Vini Duarte.
Sustenta Graffiti
Série de ações de revitalização e a co-criação dos espaços externos da Escola Municipal Província de Okinawa na Vila Margarida (São Vicente), junto aos moradores que residem no entorno da escola e seus próprios alunos. As ações previstas envolvem arquitetura, jardinagem, grafite e produção de conteúdo audiovisual sobre arte e reciclagem com personagens reais do território.
Território: Vila Margarida, São Vicente.
Ativadores: Taynara Gois Dias e Dener Marcos Xavier (Instituto Chegados)
https://instagram.com/instituto.chegados
Skate na Faixa
Mutirão de limpeza da trilha de uma das cachoeiras do bairro que compõem a Serra do Mar para recolhimento e descarte correto de lixo e montagem de skates a partir de shapes e materiais descartados com realização de sorteios para a comunidade.
Território: Pinhal do Miranda, Cubatão-SP
Ativadores: Ariane Clímaco, André Luiz e Ferreira Costa
https://instagram.com/coletivonovoparaisocubatao
SEM SOCIEDADE NÃO HÁ SOLUÇÃO
Você
MUDANÇAS CLIMÁTICAS – QUANTO TEMPO AINDA TEMOS ?
Da fase de discussão do enfrentamento da problemática das Mudanças Climáticas apenas por iniciados, percebe-se, hoje, que, em bem pouco tempo, chegamos à realidade inevitável do pleno enfrentamento dos seus efeitos.
Infelizmente dispendemos um bom tempo no contexto do “fazendo parte do problema”, deixando para um plano complementar a etapa de “propor e implementar soluções” (preventivas e de adaptação).
Durante todo este período não demos a devida atenção de preparar a sociedade para aquilo que ela iria enfrentar, bem como o preço, nada reduzido que terá de assumir de modo a poder contribuir / participar das ações que deverão ser implementadas pelo Poder Público (federal, estadual e municipal).
Na realidade, desde 2010, no caso do Espírito Santo, já tínhamos em plena vigência a lei 9531 (Política Estadual de Mudanças Climáticas) que definia exatamente os encaminhamentos para a formulação das ações a serem implementadas, mas que, entretanto, 14 anos depois. ainda não foi plenamente regulamentada.
Uma das consequências da existência da referida lei foi, basicamente em 2023, a estruturação do Plano Estadual de Mudanças Climáticas do Estado do Espírito Santo, bem como do Plano Municipal de Mudanças Climáticas do Município de Vitória, instrumentos importantes para a preservação ambiental e, sobretudo, o bem estar da população.
Porém, e isso parece ser uma premissa muito clara, por melhor que sejam tais planos, se torna imperiosa a necessidade de ter a participação / envolvimento da sociedade no sentido de garantir o sucesso dos mesmos.
Ou seja, há que se promover (com a urgência devida) a realização de Audiências Públicas onde o Poder Público (estadual e municipal) apresente / debata com a sociedade as ações inseridas nos Planos, seus efeitos e custos, bem como as mesmas serão implementadas.
Não seguir este caminho será assumir o peso inevitável da cobrança de responsabilidade decorrente desta omissão.
Roosevelt Fernandes, M.Sc.
Engenheiro Ambiental
Ex conselheiro do CONAMA, CONSEMA, CERH e COMDEMA / Vitória
roosevelt.consultoria@outlook.com