por Victor Sousa, GT Imagem e Memória
I-
Alberto Marinho é meu bisavô. Um dos onze filhos de uma mulher escravizada, Senhorinha como era conhecida, e um português que abandonou o Brasil na Proclamção da República ou na Abolição da Escravidão, não sabemos. Deixou o sobrenome Marinho para os filhos da família brasileira, em Pelotas ou Santa Maria- RS.
Junto com seu irmão mais velho, o Capitão Estevão Marinho e, mais novo, Joaquim Marinho (nascido em 30/10/1895 e começou a navegar com 14 anos), iniciaram a trabalhar na Marinha Mercante no comércio da Carne de Sharque.
Meu bisavô navegou até Nova Iorque como Mestre de Máquinas. Há documentos, dizem. Não os encontrei.
II-
Alberto, meu bisavô, deve ter chegado em Santos por volta de 1910. Cálculo.
Por aqui, desenvolveu com seus irmãos a praticagem livre. Iam com canoas à alto mar, ficavam de dois a quatro dias no mar, à deriva, esperando a chegada das embarcações.
Consigo imaginar ele subindo as escadas de um cargueiro, se equilibrando, na noite ou na chuva. Não consigo imaginar o que era manobrar um navio naquela época por um canal estreito.
Eu vi o mapa hidrográfico artesanal da Bahia de Santos que eles fizeram com cordas, com nós para medir a profundidade. Num papel que parece tecido, em uma pintura que parece candida.
Estevão, seu irmão mais velho, era conhecido como o melhor prático do Porto e suas manobras eram reverenciadas pelos trabalhadores portuários por não utilizar rebocadores.
Com a morte de Estevão Marinho, fundaram a EMPRESA MARÍTIMA IRMÃOS MARINHO, de serviços de praticagem em 1932, que tinha sede na Rua General Câmara 502 (provavelmente o Estevão morreu neste ano).
III- E isso é tudo o que sei do meu bisavô.
E sei que nunca vou saber tudo. Essas fotos são camadas dessa história, sem compromisso com a verdade ou precisão histórica, não acredito nisso. Cresci escutando essas histórias e tenho vontade de contá-las do meu jeito.
Particularmente, prefiro a história que não consigo provar com documentos ou registros.
De que eles eram contrários a federalização da profissão e seguiam defendendo a praticagem livre. O que os levou da riqueza à pobreza.
Joaquim Marinho costumava jogar búzios e Alberto Marinho era membro da maçonaria e tocava violino.
Que ele ficou acamado por um acidente ou um tiro, ou os dois.
De que foram também capitães de longo curso. Que eram os mais corajosos marinheiros.
Que compraram um escafandro e buscavam tesouros nas embarcações naufragadas no litoral de São Paulo quando a situação financeira apertou.
Eram proprietários de um posto semafórico no Mont Serrat que foi reivindicado no governo Getúlio Vargas em 1932.
Dizem que foram os primeiros práticos a visualizar os navios pelo forte e não ficar esperando em alto mar.
E essa série é justamente isso, uma tentativa de não ficar esperando em alto mar essa verdade que nunca vou conhecer.
É somente a vontade de exaltar a força de um marinheiro negro.
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