A habitação é um comum; por moradia digna e pela democratização da arquitetura

Quando falamos em luta por moradia sempre vem aquela ideia de que é preciso construir novas casas, não é verdade?

Mas você sabia que o déficit habitacional também leva em conta a qualidade das moradias das pessoas? E que tem mais gente vivendo em condições precárias do que sem moradia?

Já publicamos uma matéria aqui no blog sobre o tema. Explicando mais detalhes da Lei de Assistência Técnica para Habitação de Interesse Social e contando sobre a primeira edição do projeto ATHIS na Baixada. Clique aqui para ler.

Por aqui, essa tornou-se um tema de atuação dos nossos trabalhos. Desde 2018 temos o GT Athis do LAB Procomum e, em 2021, criamos o nosso segundo projeto com fomento do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo (CAU-SP).

Trata-se de uma formação para arquitetes em Assistência Técnica e Habitações de Interesse Social (Athis) com o objetivo de desenvolver projetos de arquitetura e urbanismo, em co-criação com a população da Vila Margarida (São Vicente-SP) e da Bela Vista(Santos-SP) para melhorias de suas habitações.

As atividades já começaram e vão utilizar a metodologia da Colaboradora, oferecendo para 60 arquitetes da Baixada e de todo Brasil a participação em oficinas, mentorias e eventos virtuais para respeitar o isolamento social.

Os participantes da Colaboradora ATHIS foram selecionados por meio de chamada pública, receberão uma bolsa, e oferecerão uma contrapartida, neste caso, um projeto arquitetônico ou urbanístico para uma das comunidades envolvidas.

Para aproveitar o embalo do começo das aulas e do projeto, conversamos com Thayane Teixeira Magalhães, 28, carioca radicada em São Vicente. Ela participou dos cursos da primeira edição do ATHIS na Baixada e agora está criando um escritório de arquitetura popular na Vila Margarida junto com seu companheiro.

IP: Conte-nos um pouco da sua história com a arquitetura.

Sou formada em design de interiores e quando vim morar na Baixada Santista entrei em contato com a arquitetura. Queria lidar com algo mais técnico e resolver os problemas de arquitetura que sabemos que existe em muitas casas brasileiras.
É algo que tenho buscado, trazer mais conforto para a vida das pessoas. Entendo que a arquitetura deve ser mais humana e que busque sempre o benefício para o cotidiano das pessoas.

Muitas vezes nós, brasileiros, e eu me incluo nisso, pois ao longo da minha vida antes de ser arquiteta, realizamos obras e reformas sem a consulta de um profissional habilitado. Vamos por conta própria, e muitas vezes não levamos em considerações questões como insolação, ventilação, e outros tantos fatores que interferem no resultado final da edificação e consequentemente do ambiente. O meu desejo é poder tornar a vida das pessoas melhor pela arquitetura.

IP: E como conheceu as práticas de Athis?

Tive em contato com uma cartilha do CAU sobre o Athis em 2019 e comecei a pesquisar sobre o tema.Ano passado participei do ATHIS na Baixada e esse foi o primeiro curso de fato que fiz voltado para o tema e agora, com a Colaboradora e Laboratório ATHIS poderei colocar os conhecimentos em prática. Essa, inclusive, é a grande questão. A dificuldade e falta de espaços e oportunidade para atuar dentro dessa área.

Sou arquiteta e meu namorado, Laerte, é engenheiro e nessa trajetória é meu parceiro de vida pessoal e profissional. Estamos trabalhando juntos e queremos seguir com um escritório juntos. Ele também participou do Athis na Baixada e é morador da Vila Margarida e estamos aproveitando um espaço no bairro para montar um escritório. Ainda não está pronto.

Athis e população de baixa renda é uma das áreas que temos interesse de atuar, mesmo sabendo da dificuldade. Queremos trabalhar para quem precisa, pois todo mundo tem direito à arquitetura.

Essa é a nossa meta enquanto escritório. A gente tem em mente que o escritório deve atuar para todo mundo que precise, não importa a faixa de renda. Nossos serviços precisam se adaptar à realidade das pessoas. Na arquitetura, o inicio de tudo é uma ideia, seja ela uma mansão ou um kitnet. Temos que pensar qual a melhor maneira de fazer o projeto, independentemente do local ou classe social, o segredo está nas diversas alternativas de materiais, técnicas construtivas, mobiliários, dentre outros aspectos da construção.

Temos consciência de que mesmo sem a gente (processionais da área), as pessoas constroem à sua maneira. Através dos cursos que já fizemos e de conversas com outros profissionais, percebemos que o que falta para a população é informação, acompanhamento e assistência técnica.

O nosso escritório, mesmo ainda dentro de nossos corações, visa levar através da arquitetura e engenharia a construção ou melhoria de residências sempre visando o ser humano que nela habita.

1080 1080 Editor
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