Coletivos de artistas, comunicadores, desenvolvedores de tecnologias e outros reuniram-se para produzir obras individuais e coletivas contra o apagamento histórico da população negra da Baixada Santista, afirmando o protagonismo negro no passado, presente e futuro da região no projeto LAB Memórias, Narrativas e Tecnologias negras da Baixada Santista; Obras serão lançadas no decorrer do segundo semestre de 2021
Quando analisamos as recentes pesquisas sobre a questão racial na Baixada Santista, percebemos que a região tem o maior número de população negra no Estado de São Paulo e, por outro lado, a cidade de Santos está entre as cidades com maior segregação racial do país.
A simples análise desses números apresenta uma evidência de que algo não está certo. Ainda mais se levarmos em conta a importância histórica da região para a construção do país, que fundou as primeiras cidades e rotas comerciais do Brasil.
No campo das ciências, qualquer pesquisa, experimento ou teoria parte de uma tese rumo à uma comprovação.
Desde a fundação do LAB Procomum, laboratório cidadão do Instituto Procomum, entendemos a importância da construção de mecanismos e metodologias para novas pesquisas, experimentos que permitam a consolidação e comprovação de novas teorias e teses. Um local que valorize os saberes das pessoas, dos cidadãos, que muitas vezes nem a academia, nem a ciência, nem o Estado, nem o mercado consegue absorver.
As obras e protótipos realizadas durante o projeto serão lançadas no decorrer do segundo semestre. Acompanhe as redes sociais do Procomum e o site do LAB Procomum para mais novidades.
Uma pesquisa para alavancar uma série de ações contra o apagamento histórico
“Nós vivenciamos e escutamos todos os dias, ao trabalhar com cultura popular, tecnologia e inovação, a importância histórica e atual da população negra na região. Por outro lado, também vivenciamos o apagamento, o racismo, a segregação. Essa contradição é óbvia e permanente”, afirma Marina Pereira, coordenadora de comunidades do LAB Procomum.
Marina Pereira conta que, para se contrapor ao apagamento sistêmico que existe em relação à história negra e à contribuição das pessoas negras na construção política, simbólica e social desse território, era necessário realizar alguma ação coletiva e de impacto. Afinal, trata-se da região mais antiga e importante para construção do Brasil.
Importante inclusive para a resistência negra do Brasil, local que não só foi vanguarda nos movimentos abolicionistas – esses sim, minimamente registrados – mas também de uma ampla resistência popular com a formação de importantes quilombos urbanos e rurais, em tecnologias únicas, vanguardistas e essenciais para o fim da escravidão no país. Um dos pontos que eram discutidos por diferentes grupos do LAB Procomum e que foi possível aprofundar com a pesquisa.
“Resolvemos utilizar a metodologia de pesquisa-ação do LAB Procomum para assim evidenciar o protagonismo negro da região, convocando grupos, coletivos, agentes culturais, inovadores e artistas a desenvolverem obras e propostas de intervenção que contribuam com uma sociedade antirracista”, conta Marina Pereira.
E essas ações coletivas são induzidas a partir de uma investigação histórica, nesse primeiro momento desenvolvida pelo jornalista Marcos Augusto Ferreira que produziu Memórias Apagadas na Terra da Liberdade, com as principais referências e fatos históricos da cultura negra da região, a partir, principalmente, da história de Cubatão e Santos.
Com o avanço da pesquisa, grupos que já existiam dentro do LAB Procomum em diversas linguagens e outros artistas e grupos convidados desenvolveram uma série de ações que surgem como resposta para a sociedade em como podemos evidenciar esse protagonismo.
Mapeamento permite a visualização do protagonismo negro na Baixada
Ela foi construída com a finalidade de mapear pontos que correspondem a iniciativas, pessoas e infraestruturas negras da Baixada Santista e já conta 114 pontos mapeados em um cadastramento que incluiu tanto um chamamento para o público, mas também pontos mapeados pela própria equipe do LAB Procomum.
“Uma ferramenta para que tenhamos atualizações constantes e permanentes para evidenciar que a Baixada Santista ainda, somada a história de luta, ainda é um território onde essa presença negra existe. Como podemos visualizar isso dentro dum mapa georeferenciado”, conta Marina Pereira, coordenadora do projeto e Gerente de Comunidades do Instituto Procomum.
Um ciclo de formação e uma pesquisa que multiplica as possibilidades das prototipagens e obras
Vale lembrar que o projeto também realizou uma série de círculos de formação nas áreas de dados, audiovisual, artes plásticas, cultura maker, entre outros.
Depois de quase 10 meses de pesquisa-ação, toda essa inteligência artística coletiva resultou em obras audiovisuais, exposições, séries fotográficas, intervenções no território,ensaios ilustrações, podcasts e outros protótipos. A produção coletiva e em diversas linguagens, a partir da arte, tecnologia e inovação ajuda a entender como os diversos saberes podem contribuir para a construção de uma política e vida antirracista.
As obras serão expostas de maneira híbrida no segundo semestre com intervenções nas cidade, exposições, encontros, rodas de conversa.
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