Arte: 4 aulas abertas, 4 desafios, 13 artistas convidades a criar

A Colaboradora – Artes e Comunidades é uma metodologia formativa, uma escola livre e colaborativa. Um percurso  na qual artistas selecionades por chamada pública tem acesso à aulas, mentorias e desenvolvem projetos pessoais, estimulados a colaborar entre si.Nesta edição a coordenação decidiu inovar, ampliando o acesso a mais participantes em novas modalidades de atividades.
Com isso também visou estimular e proporcionar outros modelos possíveis de colaboração. Afinal, a gente gosta de abrir o código e experimentar novas possibilidades.

A coordenadora do projeto, Marina Paes, explica que durante a segunda temporada da CAC em 2020, as aulas presenciais foram interrompidas pela pandemia e mais da metade da formação, inclusive o desenvolvimento dos projetos e as mentorias, foram realizados em ambiente online.

“Um dos eixos da Colaboradora – Artes e Comunidades é a criação com e nos territórios. Durante o ano passado, o grupo refletiu e criou obras expandindo essa noção – território não só como locação, espaço físico, mas também como corpo e vivência. Nós realizamos uma série de conversas e uma publicação sobre o papel da arte na crise. E criamos uma plataforma chamada Territórios Comuns – uma galeria virtual que serviu de base para exposição dos e documentação dos projetos e para experimentação das possibilidades da arte no ambiente digital”, disse.

As reflexões da temporada de 2020 da Colaboradora – Artes e Comunidades também abordaram o papel da arte e dos artistas na crise. O encerramento do projeto foi marcado pelo ciclo de conversas (DES) Fazenda – O Fim do Mundo Como o Conhecemos, o qual também foi transformado em uma publicação que pode ser lida na íntegra aqui.

“Para além do papel da arte em um mundo em colapso, também enfrentamos no cotidiano a crise dos artistas. Pessoas que tiveram a sua fonte de renda cortada, que viram o seu fazer ser interrompido por um motivo que foge do seu controle. Musicistas e atrizes sem palco, circo sem espetáculo, encontros sem presença. O público, a galeria, o cinema, o teatro, o circo, tudo – ou quase tudo – virou uma tela”, comentou Marina Paes.

Expandir o conhecimento; instigar a produção; ampliar a rede e os recursos

E a partir desses debates e reflexões, a coordenação do projeto decidiu criar uma série de aulas abertas dentro da programação da temporada de 2021 da Colaboradora – Artes e Comunidades. Foram quatro aulas abertas transmitidas pelo YouTube que abordam temáticas essenciais ao universo das artes, além de tratarem dos desafios e dificuldades da arte hoje e apontarem algumas soluções e problematizações.

Para além das aulas abertas, também foram convidados 13 artistas que participaram da chamada pública para refletirem sobre as temáticas. “Grupos de ação ou desafios artísticos” nos quais os artistas criavam intervenções ou obras que reagissem aos conceitos e questões apresentadas – uma maneira de incentivar a produção e criar novas possibilidades estéticas para disseminação do conteúdo. Quem articulou todo esse processo foi a também artista convidada Letícia Diez: “Foi muito legal, cada grupo trouxe algo novo. Foi leve e gostoso. Senti como se apresentasse o caminho e os grupos se sentiram confortáveis pra criar”.Ela testou um processo lúdico no primeiro encontro, com 3 dos 4 grupos e os artistas sentiram isso como algo novo, uma quebra diante dos encontros online, produzindo acolhimento.

Todas as artistas que participaram dos desafios também foram contempladas com uma bolsa. Uma maneira de distribuir os recursos em tempos de crise.

Assista aos vídeos das aulas e veja as resposta dos desafios artísticos:

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Aula 1 – A Internet Deu Ruim: Da Democratização da Cultura à Digitalização de Acervos

Por mais alardeado que seja, a democratização cultural pode não significar necessariamente amplitude de acesso e de significado. Nesta edição, veremos como as tecnologias possuem um papel importante na real proliferação de acesso e, também, como a digitalização de acervos ajuda neste processo.

Com Thiago Carrapatoso – jornalista, especialista em Comunicação, Arte e Tecnologia e mestre pelo Center for Curatorial Studies (CCS) na Bard College, em Nova York. Foi um dos fundadores da Casa de Cultura Digital; um dos idealizadores do Movimento Baixo Centro; autor da pesquisa A Arte do Cibridismo, realizada pela Funarte e ganhadora do prêmio de melhor estudo sobre arte pela Fundação Bienal de São Paulo; curador do ciclo Cidade Queer, financiada pela fundação canadense Musagetes; e já foi coordenador do Google Arts & Culture no Brasil, mas agora coordena os parceiros de e em Portugal.

Grupo de ação 1

Foi produzido um vídeo em trio acerca de uma reflexão compartilhada pelos artistas:

“Gentrificação, NFTs e criptomoedas, termos criados para dar nomes a ações já existentes, são termos acessíveis?
A partir dessa reflexão surge o desafio de democratizar a informação de forma que nossa fala e nosso gesto seja entendível em qualquer esfera social e intelectual da sociedade. A democratização da cultura e dos saberes só será possível através de uma comunicação acessível e inclusiva a todes.”

https://www.instagram.com/tv/CRr3pI8t0iX/?hl=pt-br

Produção:
Tiago Pereira Rodrigues
Odilon K. Alves Batista
Mariany Passos
Voz: Odilon K. Alves Batista
Interpretação:
Mariany Passos
Tiago Pereira Rodrigues
Mediação:
Marina Paes
Diez
Agradecimentos:
Instituto Procomum
Zé Carlos Gomes

Aula 2 – Filosofia da Arte

A aula pretende investigar os possíveis sentidos da estética e da atividade artística no mundo contemporâneo. Em primeiro lugar, iremos fazer uma breve apresentação da história do conceito de arte no Ocidente. Em um segundo momento, pretendemos discutir o conceito de partilha do sensível a partir do pensamento do filósofo francês Jacques Rancière.

Com Taisa Palhares, Professora de Estética do Departamento de Filosofia da UNICAMP, crítica de arte e curadora.

Grupo de ação 2
O grupo decidiu por realizar 3 diferentes intervenções registradas em 3 vídeos:
Noah Nunes – Slam do Desabafo
Foi criado de forma muito natural após as provocações e trocas dos encontros que aconteceram ao longo do projeto. No texto, Noah vomita tudo o que estava entalado em sua garganta a algum tempo, trazendo também sua vivência não binária em cada palavra como forma de protesto e voz para quem foi calade. O resto você pode tirar suas próprias conclusões assistindo.

Carolina Canã – Troco Histórias por Mandalas
Foram coletas três histórias na Região da Bacia do Mercado, em Santos-SP. A partir dessas histórias foram criadas três mandalas, com as quais os narradores foram presenteados.
A ação teve como objetivo explorar maneiras de relacionar o trabalho da artista com o território e as pessoas que vivem e circulam por ele, além da produção de Registro e Memória das vidas que ali encontram caminho.

Sérgio Scazufca – Golpe com Esquadro
A proposta foi uma brincadeira rápida a dois, em que com um golpe corta-se uma folha de papel. Aconteceu na Bacia do Mercado, em Santos/SP.
Em clima circense, provocar o riso, promover uma rápida fuga da rotina, interferir na programação do transeunte com afeto.

Aula 3 – Distribuição de Arte nos Territórios

A aula pretende apresentar diferentes suportes para a criação, apresentação e difusão de trabalhos artísticos, além de percorrer as experiências dos artistas convidados.

Com

Roberta Carvalho
Artista visual e multimídia. Desenvolve trabalhos envolvendo o vídeo, a intervenção urbana, a video-projeção, realidades mistas, instalação, audiovisual e projetos interativos. Formada em artes visuais pela Universidade Federal do Pará (UFPA) é atualmente Mestranda em Artes da UNESP (PPGARTES).

Mauro Neri
Veracidade, como é conhecido, Mauro Neri, preto com origem na periferia de São Paulo, educador, artista plástico, grafiteiro e pichador.
Co-responsável pelo movimentos Imargem, Cartograffiti e Infograffiti; projetos de arte, edu-comunicação, meio ambiente e direito à cidade.
Expõe nas ruas e instituições no Brasil e no mundo. Age a partir das margens produz na paisagem, imagens de gente, de casas e escritas com a palavra “ver” em percursos de acessos para além das fronteiras.

Grupo de ação 3 

O ano é 2021 e os excessos dos tempos modernos nos afastam do primordial: A experiência. A falta de tempo, o excesso de compromissos, a velocidade da informação e da formação de opinião também afetam os lugares. E pessoas são lugares. Elas são locais de passagem, uma superfície sensível.
O que acontece de algum modo nos atinge, gera afetos, deixa vestígios, efeitos e esculpe marcas, sendo também lugar onde chegam as coisas. O indivíduo é sobretudo um lugar onde os eventos acontecem.
É preciso estar disponível e disposto. Aberto, receptivo. Algo que tem mais a ver com paciência, atenção, como uma disponibilidade fundamental e essencial. É bom também mencionar a incerteza, porque ela é tão concreta quanto a experiência em si e não pode ser ignorada.
Mas, nas relações que se adentram com tamanha dimensão, essas experiências não têm objetivo ou meta. Elas atuam como uma fenda para o desconhecido, para o que não se consegue antecipar, nem prever. E isso é essencial para que continuemos seres reflexivos e críticos. Essencialmente as respostas mais potentes são carregadas de incertezas e dúvidas. E mesmo que isso não seja óbvio para todos, é a arte que expande a nossa consciência mais do que qualquer outro caminho, justamente por deslocar o lugar do real. Expandir a realidade amplia nossa capacidade de enxergar além do óbvio – e além do que nos é dado a ver.
A arte é o além do mundo que, depois de nos tirar do lugar, nos devolve para um outro além de nós mesmos. Somos, a partir de cada experiência, nós e além de nós. Esta é uma vivência transgressora, profundamente humana e à prova de manipulações. Invocar outras realidades que nos habitam provoca reflexões diferentes em cada pessoa. Literalizar a arte é uma monstruosidade que comumente é cometida contra obras e artistas desde que o cotidiano de exceção se instalou no mundo.
Rever nossa compreensão de mundo parece urgente. Nossa intenção é refletir sobre as questões que nos rodeiam e suas infinitas relações. E a emoção não é uma ferramenta menos importante que o pensamento.
Somos, enquanto indivíduos, produtores de cultura e não somente reprodutores. Nesse enlace, a emoção é forte norteadora. A experiência e a pesquisa têm mostrado que um fato impregnado de emoção é recordado de modo mais sólido, firme e prolongado que um feito indiferentemente.
Cada fragmento desse trabalho visa dialogar com a essência individual, com a imaginação e as reflexões conjuntas. A imaginação e o universo simbólico são o que há de mais humano, transformador, revelador e essencial. A antropologia fala do imaginário. E a arte trabalha com nosso inconsciente, com os sonhos, as associações. Alcança nossa verdadeira verdade. Por isso, a cultura e a arte são tão importantes. Porque falam do que não é falado. Criam-se metáforas, abstrações. É importante sabermos nomear as coisas, seja por linguagens escritas ou metafóricas; para podermos então desmantelar tudo isso.

REGISTROS FOTOGRÁFICOS
A fotografia atua como visualidade do pensamento. Neste trabalho, a fotografia se configura como extensor da reflexão e também se traduz em escrita visual.
A seleção de imagens traz perspectivas distintas de um mesmo território que se apresenta múltiplo a partir de repertórios diversos.

Da concepção a produção deste projeto, o impulso é criar cada vez mais possibilidades para que mais elaborações surjam resultantes de nossos mergulhos em busca de uma conversa aberta com a nossa própria subjetividade.

#territorialidade #paisagem #realidadeexpandida #abstração #experiência #repertórios
#projeção #fotografia

AGRADECIMENTOS
Ao Instituto Procomum pelo convite, pela oportunidade dos encontros e pela possibilidade de
compartilhar, colaborar e criar artisticamente com artistas e parceiros de muita generosidade.

Ieda Mercês – Artista Visual | DJ
Jachson Bispo – Ator, Contador de Histórias, Produtor
Márcio Júnior – Músico, Produtor Musical, Cientista Social
Mayra Pietrantonio – Museóloga | Historiadora | Performer

Aula 4 – Visão de Mercados

A aula pretende problematizar a ideia de “mercados” e também apontar formas de monetizar o trabalho criativo.

Com Dj Bola A Banca, pai de 3 filhos, Dj Turntabilista, produtor cultural, empreendedor social, fundador da A Banca em 1999 como um movimento juvenil.

Grupo de ação 4
O grupo ficou bastante impactado pela aula e reflexivo sobre diferentes situações de vulnerabilidade. Decidiu realizar ações de celebração e envolvimento das pessoas nas ruas e arrecadar alimentos para contribuir em campanhas.

A primeira ação traz música e movimentos corporais com @celsocarvalholima em Santos

A segunda ação consistiu no lançamento do vídeo musical conceitual por @guttoxgutto em São Vicente

https://www.instagram.com/tv/CTXtWXSNDF0/?utm_source=ig_web_copy_link

A terceira ação foi uma oficina de customização de sprays pra exercício da criatividade com @loveslari na Praia Grande.

1280 803 Editor
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