Encerramos nosso primeiro laboratório cidadão na Colômbia, o LA Cuida. Mergulhamos em um processo de potencialização de 10 ideias propulsionadas por mais de 40 pessoas relacionadas ao Cuidado na América Latina. O laboratório foi uma construção coletiva reunindo ICESI, Instituto, OEM, Artemísias, Think Olga, Impulsa, Solidarity Center e Friedritch Ebert Stiftung. Esta é a primeira edição e já constrói novas pontes para novos horizontes.
Importante mencionar que todos os nossos laboratórios são norteados por uma metodologia própria, aberta e viva que se molda conforme crescemos enquanto instituição. Somos focados na construção de redes em prol do bem viver e no respeito ao saber local “Chegar tentando interagir nosso jeito com a realidade local é uma forma de criar comunidades entre diferentes países. Tudo com muita escuta. Outra coisa que me saltou aos olhos, foi como a criação de redes fortalece iniciativas e traz a visão para novas perspectivas.” Luíza Xavier
Lia Lopes, Gerente do LA Cuida afirma que trata-se de um Laboratório de Ativação da Economia do Cuidado que se propôs a reunir diferentes pessoas da sociedade civil, academia, governo e ativistas para argumentar, articular a respeito do que é Cuidado, O que é economia do cuidado e o que é o Comum. Essas três perguntas nortearam o laboratório a fim de gerar protótipos que pudessem trazer soluções a respeito dos trabalhos relacionados aos cuidados comunitários que estão acontecendo na América Latina.
Foram oito dias, de 2 a 10 de julho, compartilhando momentos de alegrias, dores e aprendizados. Luíza Xavier, Coordenadora de Comunidades do Instituto Procomum, conta:
“Conseguimos reunir várias pessoas do próprio território, mas com muita representatividade: Mama Tirsa, por exemplo, desde os 14 anos trabalha trazendo crianças ao mundo, esta trajetória ajudou no nascimento de toda uma comunidade. Também conhecemos Marja, uma ativista que trouxe a discussão a respeito do reconhecimento do Viche (bebida que a desde de setembro de 2021 se tornou patrimônio cultural ancestral colombiano) como elemento da cultura em detrimento da comercialização desenfreada e descolada do saber ancestral.
Então estamos falando de pessoas com trabalhos concretos e muito impactantes. Por mais que tenha existido a barreiras do idioma, foi incrível perceber como o trabalho que realizamos aqui em Santos pode reverberar em outros locais, vimos nossas metodologias sendo expandidas em outros espaços.”
Todo o processo compreendeu pactos, visitas a territórios, trocas, rodas de conversa, tenda de cuidados, apresentação dos protótipos, feira para venda de produtos, celebrações culturais e muita comida.
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O que a princípio seria um encontro para a proposição de iniciativas, aos poucos foi se desdobrando em diversos elementos, no dia 9 de julho, dentro da programação do LA Cuida Colômbia, aconteceu o evento “O Cuidado no Centro do Futuro da América Latina”. que contou com 3 mesas compostas por mulheres cujo Cuidado tem pautado suas reflexões ao longo dos últimos anos. Para saber um pouco mais a respeito deste assunto, acesse a matéria.
Aluna Serrano do Instituto de Politica Abierta menciona que as pessoas relacionadas a Economia do Cuidado têm sido historicamente excluídas, precarizadas, não remuneradas e daí a importância do que foi feito no La Cuida. É importante perceber que em se tratando de exclusão, as populações negra e indígena costumeiramente são as mais afetadas. Foi olhando sob essa perspectiva que, em sua seletiva, LA Cuida compreendeu a necessidade de trazer mais pessoas pertencentes a estes grupos. O resultado foi que de 112 inscrições, foram selecionadas trinta e sete mulheres negras, onze indígenas e treze pardas. No entanto, também abrimos seletiva para colaboradores, pessoas que auxiliariam no desenvolvimento dos protótipos. e assim como no evento ocorrido no dia 9, notamos uma baixíssima procura de pessoas do sexo masculino, o que talvez revele desinteresse dessa parcela da população nos alertando para a necessidade de encontrar métodos de dialogar com estes.
Das propostas
Os proponentes trouxeram as seguintes iniciativas:
- Aflora – Aplicativo pedagógico para aprendizagem de saúde menstrual
- Kunnatei Ati – Espaço para preservação e fortalecimento de parteiras e práticas ancestrais das cuidadoras Buti Zaku
- ParaMar – Círculos de Cuidado para trabalhadoras e sindicalistas
- UNIDAPP – Plataformas de segurança e prevenção a violência direcionada a mulheres que trabalham com aplicativos de entregas
- Ferramentas de Cuidado para mulheres negras – Corpo, história e saúde mental.
- Red Dianicas – Prevenção de abuso sexual de crianças
- Encontro Vicheros – a poética do viche, oralidades, escritura e memória do viche – A iniciativa propõe o desenvolvimento de uma cartilha que contenha processos de memória e reivindique o Viche como prática cultural e ancestral das Comunidades negras do pacífico colombiano.
- NIDOS – Rede de saberes associados ao cuidado e a proteção da mãe migrante – Propõe a criação de bases metodológicas e práticas para levar saberes associados ao Cuidado e proteção a mulheres migrantes e as famílias acolhidas.
- Biblioteca para campanha de impacto sobre direitos sexuais e reprodutivos – A iniciativa propõe o desenvolvimento de um kit com recursos gráficos, textuais e audiovisuais para uma campanha de impacto que permita às pessoas beneficiadas compartilhar aprendizados e impulsionar ações de cuidado sobre direitos sexuais e reprodutivos em seu território.
- Laboratório Têxtil Itinerante – tecnologias têxteis libertárias – O laboratório propõe fortalecer e acompanhar iniciativas têxteis de memórias em diferentes territórios. estabelecer e ativar uma rede que celebre o intercâmbio de saberes e conhecimentos para autonomia do uso cuidado e manutenção de equipes e ferramentas formação da cadeia criativa e produtiva de acordo com as necessidades do Ofício Têxtil.
A respeito dos protótipos, algumas observações foram feitas por Luíza Xavier: muitos evidenciaram a saúde mental daqueles que cuidam. O saber ancestral atrelado a elementos da natureza é muito presente no local, quando chegamos, por exemplo, fomos recepcionados por mandalas feitas com plantas. Esta característica se revelou muito presente nos protótipos.
Buscamos identificar, estruturar e apoiar iniciativas comunitárias que têm no centro o tema Economia do Cuidado seja ela no âmbito cultural, político ou social. Laura Blandon – OEM.
“É importante lembrar que o debate da Economia do Cuidado é pautado mundialmente, mas vê-lo próximo às pessoas que estão realizando este trabalho há anos é concretizar que são essas as iniciativas que devem ser visibilizadas.” Luíza Xavier
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