Dos desdobramentos de um laboratório cidadão

No primeiro semestre de 2023 aconteceu o LAB Tempestade Baixada Santista. Após a seleção dos participantes, no dia 10 de maio aconteceu uma roda de conversa ministrada pelo Geógrafo Adriano Liziero @geopanoramas. Como em todas as nossas atividades, cuidamos da alimentação dos participantes como uma das manifestações de Cuidado e neste dia, Luana Camargo, foi a responsável pela feitura das empadas, muito conhecidas entre as pessoas que frequentam o nosso LAB. 

 

Luana tem 32 anos, é mãe, companheira, empreendedora, estudiosa, ativista e entre muitas outras coisas, moradora do morro do Pacheco. Em 2020 os deslizamentos causados pelas chuvas no local deixaram vítimas fatais e acenderam um alerta nas pessoas que habitam a região. No entanto, muitas vezes as informações são turvas e em sua “aula” Adriano Liziero explica o porquê: existe uma falta de interesse público em informar preventivamente a população. 

Adriano Liziero @geopanoramas em palestra para o LAN Tempestade BS

 

Entre uma bandeja e outra de empadinha, Luana se manteve atenta as palavras de Liziero. 

 

 “Eu fiquei maravilhada porque são coisas que eu não conhecia. Eu achava que a barreira cair e as pessoas morrerem era uma fatalidade inevitável, mas não: com gráficos e imagens ele (Adriano Liziero) explicou que o governo sabe. Eles sabem o que vai acontecer e as medidas que precisam ser tomadas.

Uma das coisas que mais chamou a minha atenção foi quando ele disse que o governo tem dinheiro para prevenção, mas ele não o investe, deixam pra lá e vai acontecendo. Aqui no morro do Pacheco, não sabíamos que tinha como evitar.

Mas posso dizer que uma coisa que não estava acontecendo era a cobrança. Apenas uma pessoa ia lá cobrar: dois dias antes a esposa de uma das vítimas tinha ido até a prefeitura pedir para que eles colocassem a manilha no lugar e eles não colocaram. Dois dias depois desceu o morro todo e matou o marido dela.

Depois do ocorrido um grupo de moradores do morro se juntou pedindo para que eles (a prefeitura) arrumassem a bagunça que ficou. Dois anos depois e  nada foi feito. Um dos moradores daqui, o Joselito Cardoso, tirou dinheiro do próprio bolso para abrir a Associação de Moradores do Pacheco pra tentar organizar os moradores.”

Luana Camargo

 

Quando aconteceu a chamada do LAB Tempestade BS, Luana convidou Joselito para conhecer o LAB. Ele não se inscreveu, mas percebeu que o IP poderia ser um local de construção de redes e construir redes é um anseio antigo deste líder. Unindo-se a Luana sob a perspectiva de que as pessoas devem estar conscientes para lutar pelos seus objetivos, no dia 23 de maio Joselito foi visitar a sede do LAB Procomum. 

 

Joselito estava em busca de projetos, ideias e parceiros que pudessem contribuir com a sua atuação no Morro do Pacheco. Atualmente está reformando o espaço onde sediará a Associação em parceria com a Prefeitura de Santos.  Ele percebeu que a comunidade estava carente de atividades artísticas e culturais e resolveu começar a lutar pelo espaço a fim de unir a comunidade. As escadas são uma forte característica do morro do Pacheco, a presença delas dificulta ou impede a circulação de pessoas com mobilidade reduzida. Um centro de encontro no território pode ser transformador para a população local. Para Joselito, o Instituto é um ponto de inspiração para que ele consiga integrar comunidade e poder público. Ele e Luana têm planos para o espaço que em breve estará a serviço da comunidade.

 

 “Qualquer pessoa que puder agregar a nossa comunidade será bem-vinda e eu quero que o Liziero esteja aqui ensinando a todos o que eu aprendi. Sem informação não há como lutar pelos seus direitos.”

Luana Camargo

 

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