“Investigar nossa ancestralidade exige que olhemos para dentro de nós mesmos e para aqueles que nos rodeiam e olhemos para nossa história para entender o que nos tornou quem somos. Obriga-nos a olhar para além da compreensão hegemônica que se limita, na melhor das hipóteses, a ver a ancestralidade como algo genético ou relacionado com o passado ou com “os mortos que estão mortos”.” Sensing Earth
Há dois anos, o pesquisador e professor belga Pascal Gielen e Philipp Dietachmair se juntaram a uma das diretoras do Instituto Procomum, Georgia Nicolau, para que juntos construíssem o livro Sensing Earth – Cultural quests across a heated Global” (Sentindo a terra – indagações culturais em um mundo aquecido), uma reflexão a respeito da relação entre cultura, natureza e problemas ecológicos. Em uma conversa, que aconteceu durante a visita de Pascal ao Instituto Procomum, o pesquisador contou que o livro, através de uma série de textos, aborda majoritariamente dois pontos: a cultura da mobilidade e a discussão em torno de compreender se a tecnologia é suficiente para resolver problemas relacionados à ecologia ou se precisamos de mais.
“Sabemos que precisamos de mudanças culturais e aprender como experienciar nosso meio ambiente de uma forma diferente.” Pascal Guilen
Pascal afirma que como cientistas, eles observam que parte da solução é ter empatia com o que temos ao nosso redor, conceito que também faz parte das diversas perspectivas a respeito do que é o O Comum. Na trajetória do pesquisador, os estudos a respeito do Comum se tornaram mais intensos em 2015, quando ele passou a se perguntar como os laboratórios de criatividade poderiam ser sustentáveis em todos os sentidos: econômico e também mental, por exemplo, porque temos muitos casos de burnout em nossa sociedade e isso não é sustentável.
É interessante mencionar que ao ser questionado a respeito das diferenças entre a visão do Comum aqui no Brasil e nos países europeus, Pascal conta que lá, o Comum é algo que vem sendo discutido pela classe média e para a classe média a partir do momento em que esta parcela da população começa a se sentir ameaçada pela instabilidade econômica. Outra diferença notada pelo pesquisador é que quando falamos das questões sociais, no Brasil, é irrevogável abordar os diversos racismos implicados. Porém ambas as discussões têm olhado para a ancestralidade como fundamental na busca por alternativas para o bem-viver.
Durante a conversa e permeando o livro, a arte também é colocada em discussão a fim de compreender cultura e natureza a partir de diferentes territórios. Para corroborar, nomes de artistas provenientes de diversas partes do planeta como Nina Guzzo, Naine Terena de Jesus, Mariama Smith, Fernando García-Dory e Kidauane Regina também contribuem para o texto.
Um dos capítulos do livro, Choreographing the Crisis, vem de uma experiência realizada pela mestre Nina Guzzo junto ao Instituto Procomum: trata-se de um projeto desenvolvido durante a pandemia que abordava artes e crises climáticas no qual a partir de uma plataforma norueguesa, foi criado um grupo para pensar questões ecológicas.
O livro está sendo distribuído pela editora independente @valiz_books_projects.
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