Texto: Marina Paes
“A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.”
– Fernando Birri, citado por Eduardo Galeano in ‘Las palabras andantes?’
Nesta tarde o LAB Procomum recebeu um grupo de cerca de 30 profissionais, de diferentes formações da área da saúde. Residentes multiprofissionais (médicos/as, farmacêuticos/as, enfermeiros/as e outros/as) que fazem do SUS uma espécie de morada, onde passam grande parte de suas horas em processos de qualificação e acompanhamento do público, sendo o SUS o locus do seu pensar, agir e transformar.
Os recebemos a fim de juntos/as pensarmos intersecções entre a participação social e o comum e, de nossa parte, fortalecermos com quem podemos pensar comunidades cuidadoras, assim como nas contribuições que uma ONG como o Procomum tem a dar à formação de quem está no dia a dia do trabalho no SUS.
Nas palavras de uma residente seu fazer advém do princípio de “deixar que o território fale com ela e com as equipes de saúde”, no sentido de que quaisquer intervenções partam dessa escuta e de uma leitura atenta do que se pode e deve fazer em cada contexto. Uma acepção do que é fazer política.
Outro participante dizia de sua descrença e inviabilidade de presenciarmos melhorias nos serviços prestados em âmbito público caso não sejam modificadas absolutamente as formas de governar. Ao que outra presente convoca o grupo a retomar o propósito do encontro, a “esperançar”, a despeito da necropolítica que insiste em solapar movimentos insurgentes e afrontar milhões de formas de existência.
A discordância e a diferença postas. Uma roda e a possibilidade do debate.
Comovente realizar de repente, diante de nós, uma certa transfiguração de uma madrugada de horror a alguns quilometros daqui, concentrada em um minuto. Tempo bastante e irreversível que ceifou três vidas, três trilhas de atenção e cuidados pra com humanos, incontáveis sonhos e incalculáveis motivos de acreditar num país melhor.
Em dois extremos residentes, profissionais de saúde. Uns que sequer desconfiavam da brutalidade que os alcançaria, outros/as que permanecem com implicação e pulso de vida.
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