Mulheres que correm com mulheres

 A coordenadora de Expansão e Impacto do Instituto Procomum , Soledad, visitou o Laboratório de Experimentação e Inovação em Governança, organizado pela Silo – Arte e Latitude Rural. Na ocasião, foram prototipadas sete propostas de diferentes áreas do conhecimento para serem desenvolvidas com apoio de colaboradores e mentores na sede da Silo, na Serrinha do Alambari, no Rio de Janeiro. Para conhecer a lista de projetos que foram prototipados na ocasião, clique aqui. 
Dessa experiência ela escreveu o texto “Mulheres que correm com mulheres”, que pode ser lido abaixo. Boa leitura

Por Soledad


Já é de muito tempo que as mulheres, os espaços comunitários e os direitos da natureza sofrem com a sujeição aos mecanismos de poder do mercado e às suas políticas de austeridade. Um mercado que se afirma democrático, mas que se explica dentro da lógica destrutiva de globalização, de modernização e de “Ordem e Progresso”.

Protagonistas das principais lutas pela transformação e democratização social e em defesa dos bens comuns, as ações organizadas e lideradas por mulheres na América Latina denunciam anos de exploração colonizadora (determinante para as desigualdades sociais oriundas do capitalismo) e contribuem ativamente para o desenvolvimento do bem viver, pensando a sustentabilidade da Terra.

Produzir visões, sonhos, desejos e relações novas que vão além do que permite a estrutura conduzida pela ordem imposta é condição vital, brada coragem. E somos nós, mulheres, a personificação da coragem evocada!

Mas de que maneiras podemos imaginar e construir outros mundos?

Para seguir, antes peço licença para usar o nome de uma peça criada por jovens secundaristas (personagens fundamentais na luta pela democratização da educação em 2015) e que foi montada na capital de um dos maiores símbolos neoliberais da América Latina, a cidade de São Paulo:

“Quando quebra, queima”! 

E é isso que, metaforicamente, a Silo – Arte e Latitude Rural faz. Localizada na Serrinha do Alambari – região rural com forte incidência militar, a Silo é uma organização, autogestionada por mulheres, em sua diversidade, “que cria, acolhe e difunde arte, ciência, tecnologia e agroecologia em zonas rurais, áreas periféricas e de preservação ambiental” através de experimentações que entrecruzam linguagens artísticas e laboratórios de inovação e experimentação. Pensando a democratização cultural a partir de três eixos: a sustentabilidade econômica, política e social.

 

É preciso olhar para dentro para enfrentar o estado macambúzio em que a cultura artística, a natureza e a vida do povo brasileiro se encontram. A partir das experiências compartilhadas em laboratórios como a Silo, compreende-se que as mudanças almejadas só acontecerão se aproximarmos nosso campo afetivo e nosso olhar do que está além de nós, buscando entender quais são as necessidades que tocam as comunidades e desenvolvendo uma cidadania cultural que cuide desde os lugares mais íntimos da saúde mental até a criação  artística em cada uma de nós e nossa gente – e sua difusão.

 

Para além de uma organização, a Silo é uma comunidade que tem corpo e coração. Nutrida por Cinthias, Anas e Jus, guerrilheiras que, mesmo diante do complexo desafio que é imaginar novos mundos em território militarizado e conservador, com coragem entrelaçam a arte à resistência. Um corpo-coração que, ao nos instigar a imaginar e a construir caminhos que nos possibilitem desenvolver com justiça as potencialidades das comunidades e seus territórios em comunhão com a natureza, transforma-se em uma alternativa de futuro diferente à estabelecida pela conservação e pelo conformismo da cultura herdada.

Por mais comunidades que não transformam os ambientes vivos em locações despregadas de beleza e desejo! Que nosso corpo acorde para a poesia e para a canção que também quebram vidros e janelas!

Reinventar tudo: com fogo e poesia!

E também com amor! É preciso amar para transformar!

Viva a Silo!

 

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