Descobri detalhes
Da história de onde eu vim
Vi que apagaram
milhares
De informações sobre mim
A história dos meus familiares
Os nomes que ainda sinto o gosto
O paladar
A alma que habitava cada rosto
O som dos tambores
As curas, as dores
Meu peito desritmado
Achou UM compasso
Fechei os olhos e vi
os de meus antepassados
As rotas de fuga
O seio ofegante
Suor frio fritando na nuca
Desespero-semblante
E a cada batida machuca
O perdido coração
Em terra desconhecida e distante
A cor da pele sumir na escuridão
Eu vi a saudade
O dom
A sabedoria e a liberdade
Que foram escravizados
Ouvi os passos
apressados
dos originários
Vi na neblina a resistência
De um Brasil denso mata adentro
Antes de sua falência
Ouvi o canto das minhas avós
A flecha
das minhas madrinhas
Seus segredos
De quando eram rainhas
Eu soube da maldição
da hegemonia
Das epidemias…
Da senzala cheia, da senzala vazia
O resto da luta por autonomia
Tudo o que sabemos é pouco e doloroso
Ainda não me conheço
Enquanto não souber o nome de todos
Gritam me negra e agradeço
Negra como todos aqueles rostos
A busca pelo meu passado
É o meu futuro
Meu aquilombar tropeçado
Em busca
dO Trono escuro
Enxerguei meus espaços
Os vazios dos outros passados
Sedentos
de contato
com a minha trajetória
Pra compor o meu ser
Abri o portal das memórias
Vi minha nascente se encher
Se eu estou aqui
Comigo eles vão prevalecer.
preta
Preta Jô
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