Em 2018, o Instituto Procomum construiu a Colaboradora, uma escola livre que valoriza o território, as identidades e os saberes locais. Ela foi inspirada em La Colaboradora de Saragoça, projeto vencedor do prêmio EUROCITIES Awards de 2016 e com o apoio do British Council.
Aliando formação e práticas colaborativas, além da possibilidade de desenvolvimento de protótipos artísticos autorais, em 2022 a Colaboradora formou 15 artistas cujos protótipos puderam ser apresentados ao público durante o Festival Encruza.
Marina Paes, Gerente de Educação explica que os campos de conhecimento trilhados durante cada edição da escola são: desenvolvimento artístico, com foco no fortalecimento estético e na ampliação de repertório; produção cultural, com foco na capacidade de gerenciamento de carreira e projetos; a dimensão territorial e os aspectos sociais e culturais nas criações artísticas em um contexto de crise global e processos colaborativos, com foco no convívio em coletividades, no comum e no cuidado.
E sua metodologia é permeada por atividades imersivas, oficinas, vivências, mentorias, celebrações e outras práticas colaborativas.
A grandiosidade e a potência des colabs, termo que usamos para designar es participantes, foram pontos altos do Festival. Desde a sensibilidade dos espetáculos e produções como “Lia” de Aline Carvalho, “Identidades” de Leticia Santos e “Soul Corpa” de Joana Chaves às performances arrebatadoras de “Money Temporada” de Allure e Collab Pride” de Magenta e Pathy Miau foi possível constatar resultados de uma trilha de aprendizado nada linear e extremamente diversa.
Danilo Alves, coordenador de educação, conta que mesmo com as adversidades enfrentadas por alguns como a falta de conexão com a internet em seus domicílios e a dificuldade em acessar o transporte público, foi possível perceber com muito brilho o desabrochar de colabs como Neguinha Braba, que afirma que o Procomum a fez enxergar como a arte transforma e quebra barreiras. Em dezembro a jovem lançou a música “Tem mais neguin” nas plataformas digitais, contando o dia a dia dela e dos parceiros em busca do sonho de viver de música.
A pluralidade também é uma característica forte da formação. A chamada, realizada no primeiro semestre, prezou por selecionar majoritariamente pessoas negras, LGBTQIAP+, mulheres e/ou indígenas. E os desdobramentos das colaborações seguiram nesse diverso entrecruzamento de perfis e histórias. Durante o festival, Neguinha Braba, Allure, Preta Jô e Chagas compuseram o Bloco Black unindo poesia e rima provenientes de diversas áreas da Baixada Santista. No mesmo dia, Oliveira trouxe amigos e o irmão para jogar a Capoeira, culminando em um samba de coco e samba de roda. Jean Pierre Pierot, também colab, ativou “Pedra que voa”, com materiais visuais relacionados à sua investigação artística, que pensa os fluxos e os modos de existência das pedras.
Considerar os grupos sub representados em nossa sociedade é um dos aspectos que mais faz sentido no processo da Colaboradora.
“Sendo uma artista mulher, pobre, periférica, lgbtqiapn+, existem algumas coisas que permearam sempre na instância dos sonhos, pra mim, e na realidade sempre esteve o trabalho “formal” (aquele que não tem nada ver com arte e com os sonhos, não necessariamente o fixado) e a correria atrás da sobrevivência. Foi muito importante para o meu processo artístico ter o acesso à estrutura básica pra botar em prática algo que eu sempre quis fazer, mas que antes, não tinha estrutura.” Laisa Procópio
A Colaboradora é realizada pelo Instituto Procomum, uma organização que acredita na força das comunidades conectadas em redes. Objetivamos que cada pessoa que por nós é atravessada, torne-se ponto de reverberação do Comum em seus territórios. A colab Laisa Procópio é estudante de serviço social e carregava consigo o sonho de executar Zines (também chamados de fanzines) que expressassem como ela enxerga o mundo. Na Colaboradora ela sentiu despertar essa possibilidade e assim nasceu o “BXD STS – TERRA DA HIPOCRISIA”.
“Quando entrei na Colaboradora 2022, enxerguei uma oportunidade para além de abrir esses caminhos, fazê-lo da forma que eu sempre quis: possibilitando que fizesse diversas cópias e distribuísse de forma gratuita.” Laisa Procópio
Todos os participantes desta última edição da Colaboradora receberam aporte financeiro mensal de R$500, além de recursos para o desenvolvimento de seus protótipos. A instituição financiadora foi a Porticus, uma organização filantrópica focada em criar um futuro justo e sustentável onde a dignidade humana floresce. A ajuda possibilitou custear gastos como transporte, alimentação e principalmente viabilização dos projetos.
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