Em julho, fomos convidados pelos parceiros do *desinformante para uma palestra com Frances Haugen, ex-funcionária do Facebook e criadora do documento Facebook Papers, que denuncia a falta de comprometimento da empresa Meta com a desinformação e o discurso de ódio.
Em um hotel de São Paulo, com centenas de jornalistas e organizações, ela explicou que o Facebook, especialmente para os países que não falam inglês, utiliza robôs que não interpretam os textos e apenas censuram palavras consideradas violentas. Na prática, o que acontece é que qualquer pessoa que escreva uma palavra considerada violenta vai ter a sua publicação removida.
Na prática, o que acontece é que justamente as publicações das pessoas que lutam pelos direitos humanos e contra a desinformação são censuradas justamente por utilizar essas palavras em suas postagens.
Quando perguntada sobre quais possíveis soluções para isso, Frances Haugen foi enfática. Disse que a única possibilidade que acredita é em uma moderação comunitária. Na qual a inteligência coletiva possa trabalhar em quais conteúdos são realmente violentos e quais lutam contra a violência.
Voltando para o trabalho do Instituto Procomum, vale lembrar que uma de nossas maiores inspirações é a comunidade do software livre na qual comunidades de voluntários por todo o mundo, em gestão online, validam a segurança e a usabilidade de sistemas operacionais e softwares, com suas próprias regras e protocolos.
O comum e a inovação cidadã
Dentro da área de Inovação do Instituto Procomum, pensamos ferramentas e metodologias que facilitam esse processo de gestão coletiva. Queremos uma inovação que seja comunitária e respeite as individualidades, que aponte para a solução dos problemas, feita em colaboração e pelos cidadãos que enfrentam o problema.
E quando prototipamos essas soluções dentro do nosso laboratório cidadão, o LAB Procomum, não estamos apenas experimentando pequenos modelos de gestão, ou métodos que terminam neles mesmos. Queremos influenciar políticas públicas e que nossas metodologias, saberes e tecnologias sejam replicadas em outros territórios e em outras escalas.
A experiência dos Grupos de Trabalho no LAB Procomum
Por isso, gostaria de comentar brevemente sobre a experiência que apenas se inicia dos Grupos de Trabalho e Estudos do LAB Procomum.
Tratam-se de comunidades de prática que desde 2017 ativam a programação do nosso laboratório cidadão. Em 2022, após a pandemia resolvemos criar uma nova chamada pública para reativar a ideia. Pela primeira vez, o projeto conta com R$ 60 mil reais de apoio para os participantes.
Havíamos pensado, inicialmente, em dividir este recurso em 12 grupos, mas recebemos 45 propostas, todas elas interessantes. A estrutura do nosso laboratório é grande, temos muitos espaços, como o atêlie multiuso, a horta, a sala de tecnologias, biblioteca, além de equipamento audiovisual e ferramentas.
Por outro lado, nossa equipe é limitada e não podemos nos responsabilizar por todas as tarefas de gestão e produção das atividades.
Inteligência coletiva e otimização dos recursos
Optamos por reunir os participantes da convocatória e abrir o código da questão. E por quase dois meses, trabalhamos na escuta e diálogo com esses grupos para entender como poderíamos criar um processo não excludente, mas também racional e objetivo que possibilite uma partilha justa dos recursos, entendendo eles não somente como os financeiros.
Chegamos ao seguinte modelo para os grupos de trabalho, pensando numa alocação de recursos financeiros que nos pareceu justa:
(1) Guardiões & Plataformas >> são grupos de trabalho que são consolidados como grupo com histórico de atuação para além do LAB, e em sua parceria com o Procomum ativam permanentemente um de nossos espaços: Sala Hacker, Galpão Multiuso, Biblioteca e Horta.
(2) Protótipos & Artesanias >> são grupos de trabalho cuja ação tem foco mais claro e evidente em prototipagem e no aprofundamento de algum conhecimento. Com uma perspectiva de pesquisa proeminente.
(3) Estudos & Práticas >> grupos de trabalho que precisam do espaço para se encontrar, realizam ações em suas próprias linguagem e tem muito potencial de mobilização coletiva.
Recomendamos a leitura dos dois textos: Que tal o impossível? e Saiba como foi a oficina de planejamento dos GTs.
Apontamento para políticas públicas e outros editais.
A partir dessa divisão em camadas dos grupos, conseguimos receber ideias e propostas que encontram-se em diferentes graus de evolução. Desde grupos já atuantes e importantes para a região há anos, até mesmo ideias embrionárias.
Nossa principal critério de seleção tornou-se o compromisso ético em colaborar – com os protocolos de uso, com a limpeza, com os limites de produção. Em outras palavras, a vontade de fazer parte de um coletivo, de trocar saberes.
Nosso trabalho está apenas começando e em breve divulgaremos a programação completa e mais detalhes de como estamos pensando a gestão do segundo semestre junto aos Grupos de Trabalho.
Por enquanto, fica a vontade de pensar soluções não excludentes para os editais públicos de cultura e economia criativa, que nos últimos anos tornaram-se altamente concorridos e excludentes.
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