LA Cuida chega à segunda edição e desta vez o Laboratório de Inovação Cidadã acontecerá em Montevidéu – Uruguai, em novembro de 2023. O país é pioneiro em políticas públicas que promovam liberdades sociais. Em 1927, por exemplo, foi lá que pela primeira vez, as mulheres puderam votar formalmente e em 1934 ganharam o direito ao aborto. Conversei com Soledad Maria, coordenadora do LA Cuida pra que ela nos contasse: afinal, por que Uruguai?
IP: Poderia nos contar um pouco o que leva o Instituto Procomum a sediar esta edição do LA Cuida no Uruguai?
Sol: O Uruguai é considerado um país pioneiro no desenvolvimento de políticas públicas e afirmativas no tocante ao tema que é a economia do cuidado. Foi o primeiro país a instaurar uma secretaria governamental voltada para o desenvolvimento das políticas públicas voltadas para a economia do cuidado, voltada para temas que vão desde a implantação de creches até debates mais complexos. Como a gente consegue pautar e discutir e fortalecer o trabalho de cuidado excessivo exercido em sua maioria pelas mulheres. Percorremos os dois países que já têm mecanismos que aportam esse tema.
Na Colômbia temos, por exemplo, as Manzanas del Cuidado que é um equipamento público localizado no município de Bogotá voltado para pensar em atividades para quem cuida. A economia do cuidado é um tema que tem ganhado abrangência nos últimos anos e justamente esses dois países já tem avanços, por isso escolhemos os dois para para dar início a trajetória do LA Cuida pela América Latina.
IP: Quem são essas pessoas que cuidam?
Sol: A gente tem um debate muito forte que passa pelo trabalho reprodutivo. Em grande maioria os trabalhos de cuidado são impostos às mulheres, em especial as mulheres negras não somente na América Latina como nos países do Norte. Há homens que cuidam, mas eles não representam a maioria.
IP: Quais os principais contrastes entre Colômbia,Uruguai e Brasil?
Sol: Sem dúvida as questões raciais. O Brasil é um país continental cuja população é em sua grande maioria miscigenada com representantes de vários núcleos raciais. Quando fomos para Colômbia, trabalhamos, por escolha, em um território (Vale del Calca) majoritariamente negro e ao chegar no Uruguai percebemos um país que em seu histórico teve a população negra e indígena dizimada, portanto, temos um população em sua maioria branca. Esse vai ser um dos grandes desafios, pois já é uma luta dentro do território o reconhecimento dos direitos dessa população negra. Queremos trazer essas questões.
IP: E quais as expectativas em relação a esta edição?
Sol: Minha expectativa é que a gente consiga ter um grupo coeso e diverso, para que a gente consiga consolidar o LA Cuida como um laboratório de inovação, a gente precisa, por exemplo, de mais representantes homens a fim de tirar a sociedade da alienação. Se eu tenho mais mulheres negras atuando no cuidado, as mulheres brancas precisam se responsabilizar por isso também. O cuidado deve ser responsabilidade social, coletiva, fortalecida tendo o estado como principal guardião. Eu espero um grupo mais diverso para que a gente consiga ampliar a lente sobre o tema.
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