No dia 02 de outubro de 2024, ocorreu o terceiro encontro entre vereadores e munícipes promovido pela parceria entre Instituto de Arquitetos do Brasil e Instituto Procomum. Desta vez a pauta foram os impactos das mudanças climáticas na Baixada Santista. O evento, que começou às 18h e teve duração de três horas, contou com a presença dos seguintes candidatos: Shirley Vaz (Republicanos), Gabi Ortega (PT), Caseiro (PT), Pri Ribeiro (PT), Ronald Santos (PP) e Murillo Barletta (União Brasil).
Além dos candidatos, três painelistas trouxeram contribuições significativas para o debate: Geraldo Varjabedian, Mônica Viana e Pedro Torres. Eles destacaram a urgência da questão climática e a necessidade de uma maior interação entre políticas públicas e as comunidades locais.
Geraldo Varjabedian ressaltou que, embora o plano de ação climática exista, ele tem pouca conexão com a população e precisa ser efetivamente implementado. Segundo ele, estamos em um momento de coexistência e a sociedade precisa se envolver mais. “Todas as minhas fontes de referência estão desesperadas, descendo os degraus da academia para conversar com a população.” Ele destacou que a Baixada Santista é uma região “antiambientalista e negacionista”, e reforçou que “não adianta um belíssimo plano de ação climática se as comunidades não participam dele.” Geraldo também se solidarizou com os servidores municipais, reconhecendo as dificuldades enfrentadas por aqueles que atuam no planejamento urbano.
Mônica Viana alertou sobre os diversos avisos emitidos pelo IPCC, que declararam a urgência de ações climáticas. Ela afirmou que o problema climático está diretamente relacionado à questão da habitação: “A ocupação de áreas de várzea não pode mais acontecer, pois as tragédias urbanas são resultado de um planejamento desigual.” Mônica também destacou a importância de votarmos em projetos políticos que lidam com a emergência climática de forma séria e pragmática, criticando a ausência de propostas claras por parte de muitos candidatos.
Pedro Torres organizou sua fala em torno de três eixos: o combate ao negacionismo climático, a necessidade de cumprir metas climáticas que vencem no próximo ano e a participação popular no planejamento urbano. “Não dá para falar de planejamento urbano sem a participação das pessoas que vivem nas cidades.”
No decorrer do encontro, servidores municipais também expressaram suas frustrações e desafios. Renata, uma servidora da Secretaria de Desenvolvimento Urbano, comentou: “Na secretaria, há muitas coisas que nos angustiam porque o tecnocrata não deixa de ser um ator político. Nada tem um impacto isolado, tudo vai refletir na cidade como um todo, e a participação popular é essencial.” Já Diogo, outro servidor, discordou da classificação de “tecnocratas”, argumentando que “não tem mais ‘cracia’, porque muitas coisas não progridem e os planos não são feitos.” Diogo também apontou que o Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB) pode ser um caminho para dar mais autonomia aos técnicos nas ações urbanas.
Íris, arquiteta presente no encontro, elogiou a proposta de Pedro Torres de olhar para as metas climáticas já estabelecidas, considerando-a pragmática e necessária. Enquanto isso, Marcos Caseiro ironizou a baixa participação de vereadores no evento, dizendo que “quem tem que ver isso ou é omisso ou é burro.” Ele também mencionou a alta incidência de câncer na região e as doenças vetoriais que estão sendo exacerbadas pelas crises climáticas.
Chagas, outro participante, criticou a falta de diálogo entre técnicos e a população: “Os técnicos ficam muito tempo discutindo entre si, enquanto a população lida com o problema sem dinheiro, sem apoio e sem conhecimento.” Ele destacou o exemplo de sua família, que mora na Vila Margarida e enfrenta problemas climáticos sem participar do debate, pois “esse debate não chega lá”.
Shirley Vaz, arquiteta e candidata, falou sobre seu trabalho com acessibilidade e mencionou a problemática das queimadas, um fenômeno que ela já presenciou várias vezes no interior de São Paulo. Ela também ressaltou o impacto dos resíduos sólidos de construção em diversas áreas e a importância de um trabalho de conscientização para enfrentar esses desafios.
Rogério, conselheiro do município de Santos, relacionou a acessibilidade às questões climáticas, enquanto Natasha, representante da ONG Ellos, trouxe à tona a supressão de manguezais na área continental de Santos e a ausência de vegetação na cidade. Ela também questionou a proposta do novo PAC de São Manuel e pediu a opinião de técnicos sobre o Dique das Palafitas.
Isabela, do Instituto Procomum (IP), questionou a definição de emergência climática e a dificuldade em elencar prioridades: “Como podemos aglutinar questões, como saúde e emergência climática, e decidir o que vem primeiro?”
Já Douglas sugeriu focar nas metas de 2025 para que os futuros vereadores se baseiem nelas em suas ações e fiscalização. “Precisamos ser pragmáticos com o que temos hoje.”
Helena destacou que a educação, especialmente sobre saneamento básico, deveria começar desde cedo: “Na minha quebrada, a água que as pessoas bebem passa pelo esgoto.” Ela lamentou a degradação ambiental que presenciou em Santos desde a década de 80 e pediu mais ação do poder público.
O encontro concluiu com um sentimento de urgência e necessidade de ação. A fala de Mônica sintetizou esse sentimento: “Os números dos partidos parecem números de loteria. Não há propostas claras. Busco não votar em pessoas, mas em projetos políticos, porque um indivíduo bem-intencionado não pode lutar contra uma bancada inteira que vota contra ele.”
Desde sua criação, o Instituto Procomum tem se envolvido ativamente nas questões relacionadas às crises climáticas, reconhecendo a urgência e a transversalidade desse tema. Neste ano, a partir de maio, intensificamos nossos esforços ao unir forças com a população para a formação de uma Rede pelo Clima. Até o momento, já realizamos cinco encontros dedicados a essa temática, promovendo momentos de escuta ativa e engajamento coletivo. A partir dessas interações, temos nos comprometido em traçar caminhos que possibilitem a implementação de ações mais concretas e eficazes no enfrentamento da crise climática. Continuem acompanhando nossas redes para mais informações e formas de participação.
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